Da Lei de Sociedade

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

LIVRO TERCEIRO

AS LEIS MORAIS

CAPÍTULO VII

DA LEI DE SOCIEDADE

LEI DE SOCIEDADE

 

1. Necessidade da vida social. - 2. Vida de insulamento. Voto de silêncio. - 3. Laços de família.

 

Necessidade da vida social

 

766. A vida social está em a Natureza?

 

“Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.”

 

 


 

767. É contrário à lei da Natureza o insulamento absoluto?

 

“Sem dúvida, pois que por instinto os homens buscam a sociedade e todos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente.”

 


 

768. Procurando a sociedade, não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento algum providencial objetivo de ordem mais geral?

 

“O homem tem que progredir. Insulado, não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades.

Falta-lhe o contacto com os outros homens.

No insulamento, ele se embrutece e estiola.”

Homem nenhum possui faculdades completas.

Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso.

Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não insulados.

 


Vida de insulamento. Voto de silêncio

 

769. Concebe-se que, como princípio geral, a vida social esteja na Natureza. Mas, uma vez que também todos os gostos estão na Natureza, por que será condenável o do insulamento absoluto, desde que cause satisfação ao homem?

 

“Satisfação egoísta. Também há homens que experimentam satisfação na embriaguez.

Merece-te isso aprovação?

Não pode agradar a Deus uma vida pela qual o homem se condena a não ser útil a ninguém.”

 


 

770. Que se deve pensar dos que vivem em absoluta reclusão, fugindo ao pernicioso contacto do mundo?

 

“Duplo egoísmo.”

 

a) - Mas, não será meritório esse retraimento se tiver por fim uma expiação, impondo-se aquele que o busca uma privação penosa?

 

“Fazer maior soma de bem do que de mal constitui a melhor expiação. Evitando um mal, aquele que por tal motivo se insula cai noutro, pois esquece a lei de amor e de caridade.”

 


 

771. Que pensar dos que fogem do mundo para se votarem ao mister de socorrer os desgraçados?

 

“Esses se elevam, rebaixando-se. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos gozos materiais e de fazerem o bem, obedecendo à lei do trabalho.”

a) - E dos que buscam no retiro a tranqüilidade que certos trabalhos reclamam?

 

“Isso não é retraimento absoluto do egoísta. Esses não se insulam da sociedade, porquanto para ela trabalham.”

 


 

772. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais remota antigüidade?

 

“Perguntai, antes, a vós mesmos se a palavra é faculdade natural e por que Deus a concedeu ao homem.

Deus condena o abuso e não o uso das faculdades que lhe outorgou.

Entretanto, o silêncio é útil, pois no silêncio pões em prática o recolhimento; teu espírito se torna mais livre e pode entrar em comunicação conosco.

Mas o voto de silêncio é uma tolice.

Sem dúvida obedecem a boa intenção os que consideram essas privações como atos de virtude.

Enganam-se, no entanto, porque não compreendem suficientemente as verdadeiras leis de Deus.”

O voto de silêncio absoluto, do mesmo modo que o voto de insulamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem facultar ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.

 


 

Laços de família

 

773. Por que é que, entre os animais, os pais e os filhos deixam de reconhecer-se, desde que estes não mais precisam de cuidados?

 

“Os animais vivem vida material e não vida moral.

A ternura da mãe pelos filhos tem por princípio o instinto de conservação dos seres que ela deu à luz.

Logo que esses seres podem cuidar de si mesmos, está ela com a sua tarefa concluída; nada mais lhe exige a Natureza.

Por isso é que os abandona, a fim de se ocupar com os recém-vindos.”

 


 

774. Há pessoas que, do fato de os animais ao cabo de certo tempo abandonarem suas crias, deduzem não serem os laços de família, entre os homens, mais do que resultado dos costumes sociais e não efeito de uma lei da Natureza.

Que devemos pensar a esse respeito?

 

“Diverso do dos animais é o destino do homem.

Por que, então, quererem identificálo com estes?

Há no homem alguma coisa mais, além das necessidades físicas: há a necessidade de progredir. Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais apertados tornam os primeiros.

Eis por que os segundos constituem uma lei da Natureza.

Quis Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos.” (205)

 


 

775. Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família?

 

“Uma recrudescência do egoísmo.”

 


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