Estudo - Oração de Francisco de Assis - 176

"Oh mestre, faze com que eu procure mais consolar do que ser consolado".

Até aqui, Francisco de Assis na sua oração estava pedindo para ser instrumento de Deus, ou seja, agir para o próximo auxiliando o Pai na Sua obra.

A partir deste ponto, ele passa a falar do receber dos outros.

Antes analisamos o que dar, agora vamos falar do que esperar receber pela doação amorosa.

O que é ser consolado?

Quando alguém se sente consolado?

Quando alguém lhe compreende, dá carinho, dá atenção, ouve.

A partir desta pequena análise podemos compreender o que Francisco de Assis pede a Deus: "Senhor, que no trabalho de instrumento da vossa paz eu dê carinho e ajude aos outros, mas faça isso sem esperar receber o que estou dando".

O caminho da elevação espiritual não passa pelo prazer individualista, ou seja, pela necessidade de se receber alguma coisa em troca pelo serviço ao próximo.

Aquele que busca a elevação espiritual está sempre disposto a dar, a servir e não a ser servido.

Está sempre atento em auxiliar o próximo e nunca preocupado em esperar que os outros lhe auxilie.

Francisco de Assis saiu pelo mundo "lambendo a ferida" dos outros e jamais buscando alguém que "lambesse" as suas.

Procurando aqueles que estavam agonia, nas trevas e na discórdia para levá-los a Deus e nunca esperou receber em troca por isso "luz", união ou amor a si.

O que poderíamos dizer dos seres humanizados?

Que, no mínimo, são hipócritas.

Mesmo os que seguem os preceitos de uma religião afirmam que o seu objetivo de vida é auxiliar o próximo, mas se aquele que foi auxiliado não lhe retribui, critica e acusa.

Se o próximo não disser pelo menos um "muito obrigado" é condenado como um mal agradecido.

Será que o objetivo deste ser humano era mesmo servir o próximo, ou sempre foi conquistar a fama, o reconhecimento?

Na verdade, a prestação de serviço do ser humanizado sempre é baseada na busca individual, na esperança de ganhar alguma coisa em troca.

O ser humanizado busca constantemente consolar para ser consolado, pois assim exige o seu individualismo.

Aquele que busca consolar para receber alguma coisa em troca, mesmo que apenas o reconhecimento do que fez por parte do próximo ou da sociedade em geral, é individualista.

Francisco de Assis nunca buscou consolo para si.

Foi caluniado e criticado pelo seu modo de vestir, pelo seu despojamento, mas mesmo assim sempre estava pronto para auxiliar quem lhe caluniava e criticava.

Aquele que transforma a oração de São Francisco em uma forma de viver (servir de instrumento a Deus) deve sempre estar perto de alguém para auxiliá-lo, mas nunca esperar compreensão, um agradecimento, um olhar carinhoso, uma retribuição.

Auxilia pelo amor a Deus, por se sentir instrumento do Pai e não para que receba "compensações" do próximo ou de quem quer que seja, inclusive do próprio Deus.

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