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    O Inevitável Despertar - Apostila 14

    O Inevitável Despertar - Apostila 14

     

     

    Manifestações Resultantes dos Traumas - III

     

    Prosseguindo da apostila 13, podemos dizer que diante da curta permanência em ascensão, quando do incipiente despertar espiritual, com o conseqüente retorno à dolorosa realidade humana, a pessoa, ainda não de toda transformada, externará, com forças redobradas, a viciação brutalizante que traz na alma.

    Essa visita curtíssima aos êxtases espirituais foi semelhante ao provar de um “pedacinho do céu”, mas, de tão curta, não permitiu fosse o pedacinho inteiramente ingerido.  Tão logo em seus lábios pousou a apetitosa iguaria, esta lhe foi arrancada.  Pensa em revoltar-se contra quem assim lhe magoou, mas constata, dolorosamente, que a culpa do acontecido é, exclusivamente, sua.  Isso a desgosta tanto que se torna taciturna e severa consigo mesma.

    Seria algo como vemos na figura 14A, em que a pessoa se sente como, mentalmente, em frangalhos.

     

     

    Para melhor fixar a imagem desse quadro que se transcorre, reproduzimos abaixo trecho de Roberto Assagioli citado na apostila 13, no qual ele diz:  “A pessoa, cuja consciência moral está agora mais aperfeiçoada e exigente e cuja ânsia de perfeição tornou-se mais intensa, julga com maior severidade e condena a própria personalidade com renovada veemência; ela pode alimentar a crença errônea de que se tornou ainda menos do que era.” (Grifo nosso)

    Consideramos que seja importante atentar para esse detalhe em que a pessoa se torna mais exigente consigo própria, pois isso pode descambar para uma paranóia, na qual ela nunca se sentirá satisfeita.  Digamos assim, como se ver num espelho e não gostar do que vê.  Figura 14B.

     

     

    Sem dúvida é uma situação  perigosa,  pois atingida pelo ódio contra si mesma, pode vir a atentar contra sua vida.  Principalmente quando lembra a ternura daquele momento de enlevo, o qual, agora, se acha impedida de reproduzir.  Daqui para frente sua autocrítica fica mais severa.  Desejaria, até, que nada daquilo tivesse acontecido.  Desanimada, mergulha em dúvidas atrozes.

    Mas, é bom que se diga, as dificuldades de adaptação ao novo sentido da vida são comuns a todos os seres, afinal, o processo transformativo não é assimilável com facilidade.  E essas dificuldades não acometem só com os novatos.  Mesmo veteranos praticantes da ciência da transformação espiritual esbarram com tais obstáculos.  E isso se dá porque o que está acontecendo é a interferência da consciência linear de nossa terceira dimensão com o que podemos chamar de consciência volumétrica da quarta dimensão.

    Na figura 14C, folha 2,  expressamos esquematicamente as manifestações desses condicionamentos conscienciais.

     

     

    No quadro superior da figura vemos o condicionamento da consciência na terceira dimensão.  E´ a linearinidade do espaço na sucessão do tempo.  E´ assim que o cérebro consegue manter-se ciente, equilibradamente, dos acontecimentos à sua volta.  Ou seja, processando para a consciência um fato de cada vez, num momento, também, um de cada vez.  Isto é, há o que chamamos de passado, de presente e de futuro.

    Na quarta dimensão, porém, a situação consciencial não é linear.  No quadro inferior da figura vemos que as esferas, volumes, se sucedem envolvendo umas às outras.  Não há passado e nem futuro, somente o presente.  E, quanto mais se “sobe” no alcance consciencial de outras dimensões, além da quarta, esse presente é ainda mais estável, tendendo ao que chamamos de Eternidade.

    Imaginem, agora, como possa se sentir uma pessoa que, num dado momento, sua consciência linear se misture com sua consciência volumétrica.

     

    É obvio que numa situação dessas, figura 14D, que é justamente o que acontece nas crises do despertamento consciencial, a percepção ambiental da pessoal estará inteiramente deformada.  Nem uma coisa, nem outra estará nítida para ela.  Nem a terceira dimensão e muito menos a quarta.

    Isso nos leva a recordar o que compilamos de Annie Besant citado na apostila 01, quando ela diz que é mesmo difícil, sacrificial, substituir o visível pelo invisível.

    Quantas derrotas acontecem nessa luta. Chegam a ser tão violentas que “As vezes, a reação da personalidade se intensifica a tal ponto que leva o indivíduo a negar de fato o valor e até a realidade de sua experiência recente.  Surgem na mente dúvidas e críticas e ele é tentado a encarar a coisa toda como uma ilusão, uma fantasia ou uma intoxicação emocional.  Torna-se amargo e sarcástico, ridiculariza a si e aos outros, e até vira as costas aos seus ideais e aspirações superiores.”

    Esta observação pertence ao dr. Roberto Assagioli, extraída, como temos feito, do livro Emergência Espiritual.  E nós mesmos, nas experiências pelas quais passamos, constatamos que o descrito pelo nobre pesquisador é uma realidade inconteste.  Quantos companheiros de associação espiritual, entusiasmadíssimos de início, depois viram as costas renegando tudo o que conviveram e aprenderam, e que enalteciam. 

    Nas conversas posteriores ao entusiasmo, na fase de desistência, não tocam, nem de leve nos assuntos referentes às experiências vividas.  É como se nada daquilo tivesse acontecido.  Sabemos bem, embora a isso Assagioli não faça referência, que a fuga empreendida não foi planejada só por aquela pessoa, antes entusiástica.

    Forças invisíveis, se assim as podemos chamar, tramaram e venceram os planos de serenamento espiritual.  Embora, a pessoa em fuga julgue que conseguiu desligar-se de todo o processo de despertamento espiritual, na realidade ela está equivocada.  Depois de provar, por pouco que seja, do “pedacinho do céu”, nunca voltará a ser a mesma de antes.

    Informa Assagioli que “(...) por mais que tente, não pode retornar ao seu antigo estado;(...)”  isto é, voltar a ser como era antes de ter provado do “pedacinho do céu”.  Isto porque “(...) ele teve a visão, e a beleza e o poder de atração dela permanece com ele apesar de seus esforços para suprimi-los.  Ele não pode aceitar a vida cotidiana como antes nem satisfazer-se com ela.  É assaltado por uma “saudade do Divino”, que não o deixa em paz.”

     

    Falamos dessa saudade, intitulando-a de Saudade da Fonte, na apostila 04.  Algo que deixa o indivíduo desassossegado.  “Em casos extremos, a reação pode ser tão intensa que se torna patológica, produzindo um estado de depressão e até de desespero, com impulsos suicidas.”

    A eloqüência de Assagioli descrevendo o quadro que medra no íntimo da pessoa assim atingida, mostra com clareza que não exageramos ao dizer, acima, que esa é uma situação perigosa.  A instabilidade emocional que se apodera da pessoa, em tais casos, é tão grave que, não será com pouco tempo que ela conseguirá recobrar o equilíbrio psíquico.  Sua revolta tem raízes profundas que a faz olhar as outras pessoas e ter a impressão de que só ela é a incompetente e incapaz.  Todas as demais lhe parecem realizadas.  Ela não !, pensa.

    Esse lamentável estado d’alma comprova o que temos dito neste estudo, e também nas demais séries.  Ou seja, o homem é um Ser composto por várias dimensões. 

    Se assim não o fosse, se só de uma dimensão, a física, ele fosse constituído, nada justificaria sua desesperação por algo, aparentemente, intocável.  De onde lhe vem a “saudade” inaudita que sente ?  Da dimensão física não é.  Logo, só pode ser de uma região situada além da dimensão física.  Em razão disso, esse estado d’alma mostra que nem sempre as várias dimensões se acham concordes entre si, daí advindo o desassossego emocional que se exterioriza na personalidade humana, embora nela não se origine.

    Para definir essa questão, o grande mestre Léon  Denis tem um excelente comentário, no qual demonstra o escalonamento dos níveis conscienciais da criatura.  Ele ensina que “(...) abaixo do nível normal, fora da personalidade comum, existem em nós planos de consciência, camadas ou zonas dispostas de tal maneira que, em certas condições, se podem observar alterações nesses planos.  Vê-se, então, emergirem e manifestarem-se, durante um certo tempo, atributos, faculdades que pertencem à consciência profunda, mas que não tardam a desaparecer para volverem ao seu lugar e tornarem a mergulhar na sombra e na inação.”  (Livro: O Problema do Ser, do Destino e da Dor – página 72, editado pela Federação Espírita Brasileira)

     

     

    Com a figura 14E estamos ilustrando o texto de Léon Denis.  Nela vemos a oscilação de humores e emoções descritas por ele. 

    Quadro 1 – Momento de intensa crise do despertar onde forte onda provinda da consciência profunda agita a personalidade. 

    Quadro 2 – A onda cessa e a pessoa sente alívio.  Até parece que aquelas pressões nunca existiram. 

    Quadro 3 – Inicia-se outro ciclo de pressões e a onda volta a agitar a personalidade.  E este ir e vir de alternâncias humorais perdura até que a pessoa se desperte por completo através da assimilação e aprendizado de como vivenciar esses estados alterados de consciência.

    Portanto, o texto de Léon Denis, em poucas palavras, mas em primorosa descrição, retrata a estrutura psíquica do Ser, bem como suas variações funcionais e conseqüentes interferências de uma camada consciencial com outra.  Essas interferências, como já citamos acima, podem fazer a pessoa recair nos processos desequilibrantes referidos por Assagioli.

    Cumpre aqui um esclarecimento para que não venham a nos considerar pretensiosos.  Embora, com as notas acima, não estejamos a dizer que essas revelações resolvam, de vez, o todo da problemática psíquica que eclode na humanidade, pois sem dúvida que sobre isso há muito, ainda,  por apreender, contudo, nossas notas indicam uma irrefutável e adequada direção.  Elas não são só resumos das literaturas indicadas, mas também a descrição de algumas experiência próprias vividas, e de outras colhidas em trabalhos assistenciais que nos foram possível participar.

    Dessas observações podemos dizer que a somatória dos comentários de Assagioli e Denis, como o que temos vivenciado, leva-nos a uma direção única  quando se trata de promover a reorganização do indivíduo prisioneiro desse descontrole emocional.  A direção única apontada tem o seguinte roteiro que a seguir enumeramos:

    1 – O indivíduo se vê afastado, cada vez mais, do padrão “normal” aceito pela sociedade.  Nesta circunstância as crises emocionais anunciam que ele vive, no físico, sensações próprias a outras dimensões;

    2 – O vivenciar dessas sensações provoca alguns traumas que o marcam dolorosamente.  Mesmo assim ele  não consegue recuar, embora o deseje.  Uma força irresistível o arrasta para o capítulo seguinte de sua vida;

    3 – No próximo estágio ele observa, em si, o que resultou dos traumas vivenciados, e constata que apesar de tanta experiência envolvente ainda se acha indeciso quanto á escolha do que adotar: permanecer só com o que é visível ou adicionar ao seu modo de vida também o que é invisível que, para ele, contudo, é perfeitamente perceptível;

    4 – Essa dúvida, e as crises, indicam-lhe que não mais poderá ignorar as suas outras dimensões conscienciais.  Entretanto, para vivenciá-las harmoniosamente, e não desequilibradamente como tem sido, necessário será, de uma vez por todas, renunciar aos velhos costumes, pois de posse deles “jamais poderá entrar nos domínios transcendentais”.  (Essa expressão ficou registrada na apostila 01).

    Acima o início do roteiro que nos faz chegar ao ponto crítico que a direção única nos aponta, para que o indivíduo possa alcançar o controle sobre toda essa transcendência.  Isto significa, mudar, definitivamente, sua maneira de vida.

    Mas falar sobre isso fica para a próxima apostila.

    (Nota: Os trechos de Assagioli citados nesta apostila estão contidos nas páginas 59 e 60 do livro Emergência Espiritual).

    Bibliografia:

    Allan Kardec                                                - O Livro dos Espíritos – itens 76 a 83 e 96 a 127   - Livraria Allan Kardec Editora

    Camile Flamarion                                       - Deus na Natureza                                                     - Federação Espírita Brasileira

    Léon Denis                                                  - O Problema do Ser, do Destino e da Dor páginas

                                                                             12, 72 e 120                                                             - Federação Espírita Brasileira

    Leopoldo Balduíno                                    - Psiquiatria e Mediunismo                                        - Federação Espírita Brasileira

    Roberto Assagioli                                       - Psicossíntese                                                           - Editora Cultrix

    Ver. G. Vale Owen                                      - A Vida Além do Véu – página 73                            - Federação Espírita Brasileira

    Stanislav Grof e Christina Grof                 - Emergência Espiritual                                             - Editora Cultrix

        

    Apostila escrita por

    LUIZ ANTONIO BRASIL

    Agosto de 1997

    Revisão em Janeiro de 2006

    Distribuição gratuita citando a fonte

     

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