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    O Inevitável Despertar - Apostila 13

    O Inevitável Despertar - Apostila 13

     

     

    Manifestações Resultantes dos Traumas - II

    Das manifestações que se apresentam como resíduos dos traumas oriundos do Despertar Consciencial, vimos que há uma temporalidade em seus aparecimentos.   Isto é, as forças que conferem um estado de enlevo cessam depois de um certo tempo, sendo substituídas por outras, que reacendem as tendências próprias da personalidade velha.

     

     

    Repetimos a figura 12A para rememorar esse feito oscilatório, no qual, por algum tempo a pessoa se sente no “céu” e noutro volta a ser o que vinha sendo.

     

     

    Na figura 13A vemos o traçado sinuoso da oscilação temperamental, onde fica clara a variação dos espaços de tempo em que perduram os dois estados emocionais.   A figura, então, mostra que os espaços de tempo não são padronizados e nem uniformes, tanto nos estados de júbilo quanto na retomada dos comportamentos da personalidade velha.

    Para que essas oscilações diminuam de ritmo, e abram espaços mais alongados para a duração dos períodos de êxtase, ao final da apostila anterior informamos que a solução possível, apontada por nossa própria experiência, é a do indivíduo acatar, de boa mente, a imperiosidade da força evolutiva.  Ou seja, não criar obstáculos ao irresistível fluxo de vida, estudado na série A Criatura

    Uma maneira comum de definir o que isso seja, será dizer:  abandonar a personalidade anterior e seus vícios.  Este, o grande empecilho, pois, embora de sã consciência toda pessoa deseje sentir e viver a felicidade espiritual, nem todas, entretanto, conseguem abandonar os velhos hábitos para se habilitarem à vida nova.

    Portanto, é mesmo uma situação paradoxal.  O indivíduo ansiando pela sublimidade, contudo, pesaroso por abandonar os velhos costumes impeditivos de alcançar aquilo que anseia.   Exatamente por causa dessa indecisão, que é uma reação particularizada de cada pessoa, o ritmo cíclico das energias conscienciais não é igual para todos.

    Exemplificando sobre isso, o que é sobremaneira importante conhecer, Assagioli comenta sobre três modalidades.

    1º Caso“A energia do EU é forte o bastante para alcançar essa integração superior da personalidade, bem como para transformar ou decompor os padrões e tendências inerentes à personalidade que tenderiam a fazê-la reverter ao estado precedente.  Esse resultado é relativamente raro e é ilustrado por casos em que a vida da pessoa é súbita e permanentemente elevada e transformada como decorrência direta e imediata de um despertar espiritual.”

    Este é o exemplo de uma transformação que, depois de operada, não teve retrocesso.  A pessoa se vê alçada à integração com seu EU, e dele não mais se afasta.  Seus pensamentos e ações, daí em diante, serão sempre coerentes com o bem comum geral para a humanidade.  Um exemplo que podemos dar de uma pessoa que assim se transformou, é o de Francisco Cândido Xavier, (Chico Xavier).  Uma vez alçado à convivência com os Mestres Maiores, de lá ele não mais se abalou.  Renunciou a todos os prazeres do mundo físico, bem como calou em si todos os sentimentos menos nobres.  Quanto a ele, jamais se ouviu qualquer acusação que aponte atividades indignas.  Ao peso de uma exemplar renúncia, manteve-se fiel ao propósito de sublimação.  Mas é um caso raro, como diz Assagioli. 

     

     

    A figura 13B  exemplifica este modelo.  Nela vemos, pela linha sinuosa, que depois que a pessoa passa o momento do despertar, divisão entre tempos 1 e 2, ela não mais volta aos comportamentos da personalidade velha.

    2º Caso –  “A energia transmitida pelo EU é menos intensa e/ou a personalidade é menos capaz de uma resposta, razão por que, embora se atinja um nível superior de organização, apenas algumas das tendências e padrões regressivos da personalidade passam por uma transformação total, sendo a maioria deles, tão somente, neutralizados temporariamente pela presença de energias superiores.”

     

     

    A figura 13C demonstra a situação descrita acima.  Vemos que as energias de júbilo passam a ocupar algum espaço emocional nas fases de tendências da personalidade velha.  (Tempos 3, 5 e 7).  Isso faz com que a pessoa se sinta neutralizada em seus comportamentos menos coerentes com o Despertar.

    “Por isso, a integração superior alcançada pela personalidade só se mantém enquanto a energia do EU estiver sendo transmitida de moto ativo.  Quando essa energia é retirada, a personalidade reverte ao estado precedente.  Mas permanece um modelo ideal e um sentido de direção que a pessoa pode usar para completar a transformação por meio dos seus próprios métodos intencionais.”

    Este segundo caso é o mais comum de acontecer nos chamados processos de conversão.  Por exemplo, o de uma pessoa adepta de uma determinada seita.  Por algum motivo, que pode ser dos mais variados, ela passa a se sentir atraída por outra forma de crença.  Nesta  nova crença, o entusiasmo que inicialmente exterioriza dá a impressão de que permanecerá nessa mesma disposição por toda a sua vida.

    Eufórica, confessa aos seus confrades que naquele ambiente encontrou o “céu”.  Mas, como fartamente comentamos na apostila 01, especialmente nos trechos elaborados por Annie Besant, quando o candidato ao “céu” se vê diante das provas da vida, e nelas tem que demonstrar sua definitiva renúncia à personalidade anterior e toda sua corte, principalmente naquela terceira prova, (“a terceira é o período crítico em que o crescimento e a evolução da alma são postos em provação”) então... o céu já não parece tão fácil de ser atingido, e nem tão atraente quanto antes.

    Obviamente, no oculto de sua consciência, residiam ainda maciças doses de viciações que resistiam aos influxos superiores.  Resistindo a esses influxos de clara luz consciencial a personalidade não terá forças para se manter, continuamente, adepta do “céu”, como imaginara.  Contudo, apesar do sonho ter se desvanecido alguma coisa da nova experiência vivida mantém-se ativa.   E´ uma chama bruxuleante, é verdade, mas suficiente para sinalizar que aquela consciência, e sua atual personalidade, conhecem a direção para os rumos da elevação.  No perpassar do tempo, vez ou outra essa chama se encarregará de reavivar as lembranças gratificantes que ficaram daqueles momentos de entusiasmo, ensejando, com isso, novas oportunidades de outro despertamento vir a ocorrer.

    3º Caso“A energia transmitida pelo EU não é suficiente para produzir o nível superior de organização.  Isso faz a energia ser absorvida pelos blocos e padrões ocultos que impedem a integração superior.”

    Vejamos na figura 13D, na folha 2, como é o gráfico de oscilação para este terceiro caso.   

     

     

     

    Como a energia superior não é forte, bastante, para demover a personalidade de seus hábitos costumeiros, as tendências desta forçam, e penetram, na zona que deveria ser exclusiva do estado de júbilo.  E provocando distorções vibratórias que mais confundem a pessoa.

    “Nesses casos, a experiência costuma ter uma qualidade dolorosa e a sua origem  transpessoal costuma passar despercebida.”

    Essa terceira característica de despertamento pode ser compreendia comparando-se à visita de um cometa às proximidades do sol.

     

     

    O cometa sai das profundezas de sua ampla órbita e vem fogoso se aproximando do astro rei.  Sua “cabeleira”, ou a calda, vem tremeluzente como a crina de um cavalo a correr livre.  Aproxima-se do sol a cada instante, mas, depois de tangenciar o ponto de máxima aproximação, como o mesmo cavalo a correr solto, desaparece na escuridão do infinito.  A luz do astro rei não o convenceu a ficar próximo.  Mais habituado à escuridão e ao frio cósmicos preferiu-os, voltando ao território de antes.

    Podemos dizer que as forças que impedem a integração com o EU Superior, ou o Sol de sua vida, são aqueles blocos de maciços rótulos, ocultos na consciência.  Incapaz de lutar contra eles, e vencê-los, prefere voltar à obscuridade.  Não obstante, ainda como um cometa, mesmo que demore a dar outra volta ao sol, depois dessa curta experiência a pessoa sempre estará mais predisposta para dar os passos certos.  Portanto, uma experiência também válida.

    Os três casos, em síntese, confirmam o que temos afirmado:  o despertar, seu grau, periodicidade, e resultantes traumáticas, estão na proporção direta do histórico cármico de cada indivíduo.  Em razão disso, não existem generalidades com que se possam enquadrar os processos de despertamento.  Aliás, falando nisso, reproduzamos abaixo outro trecho de Assagioli no qual ele deixa bem explícito que em despertamento consciencial não existem padrões.

    “Com efeito, é importante lembrar que a experiência da pessoa não costuma enquadrar-se perfeitamente em nenhuma dessas categorias definidas. (Os três casos acima citados)  A maioria das experiências espirituais contém uma combinação, em várias proporções, de mudanças permanentes, de mudanças temporárias, do reconhecimento de obstáculos que devem ser vencidos e da vívida compreensão do que significa existir nesse plano superior de integração.”

    Essa anotação, sem dúvida, é sobremaneira importante, pois o costume humano é o de padronizar a tudo e, com a informação acima, Assagioli deixa bem claro que o transcurso do processo pode ser um daqueles três comentados, quanto pode vir a ser, também, uma combinação dos efeitos dos mesmos.   Somos, particularmente, até propensos à fórmula de que as experiências de despertamento espiritual passam, invariavelmente, pelas três fases, não importando a ordem em que ocorram.

    O que nos faz pensar assim é, justamente, aqueles apontamentos de Annie Besant inseridos na apostila 01, como já citamos.  A coerência da análise que ela faz nos parece um suporte inegável a tal transcurso.  Ou seja, diante das provas, a pessoa ficará oscilando entre o entusiasmo fogoso e o desânimo avassalador.  Num momento pode haver uma plenitude de êxtase espiritual, no momento seguinte é um simples resvalar de ligeira sensação de ternura, em rapidíssimo contato com planos maiores.

    Nesses casos, a realidade da vida humana foi mais forte que as forças da alma.   A frustração desse retorno à pura condição humana é a de como o voltar das férias, tendo-as passado em lugar aprazível.  Deixa-se o paraíso do não fazer nada compromissado e volta-se ao domínio do relógio e das contas a pagar.

    Sobre esse resvalar nos planos mais altos e o retornar à dura vida humana, Assagioli tem interessante maneira de descrever.  Vejamos:

    “(...) a vivência da retirada das energias transpessoais e da perda do estado de ser exaltado é necessariamente dolorosa e pode, em alguns casos, produzir reações fortes e sérios problemas. A personalidade redesperta e se afirma com força renovada.  Todas as pedras e resíduos que tinham sido cobertos e ocultados pela maré cheia surgem outra vez.”  (Grifo nosso)

     

    Acrescentando nossas palavras, e trazendo à lembrança a figura 12B aqui ao lado, significa que quando cessa o fluxo de energia descendente do Eu, quadro 1, a situação pode se tornar penosa. 

     

     

     

    A personalidade humana que, temporariamente, se achava acobertada pelo manto de energias sublimes, e que por isso se sentia enlevada, comportando-se de forma educada, tolerante e fraterna, ao perder aquele envolvimento REDESPERTA.  Isto é, acorda dentro dos mesmos padrões em que antes vivia. 

    Pior, o redespertar vem com forças redobradas.  Toda a brutalidade ainda contida em sua personalidade, e que permanecia apenas encoberta pela luz consciencial, volta à superfície, de forma bestial, podendo até acontecer de  “a vitalização de propensões e impulsos inferiores até então adormecidos no inconsciente pelo influxo de energias superiores, ou a sua rebelião amarga contra as novas aspirações e propósitos, que constituem um desafio e uma ameaça à sua expressão descontrolada.”

    Essa circunstância retrata a viciação contida na personalidade desde antes da experiência de despertamento espiritual, porém, agora, reforçada com poderes novos acrescentados pela abertura dos canais de intercâmbio, consciência/personalidade, antes obstruídos.

    Como a duração do processo de descendimento das energias do EU não foi suficiente para transmutar todo o acervo vicioso em permanente virtude, as atitudes da personalidade confundida voltam-se para uma perversidade com requintes de maior crueldade.  Naturalmente que não podemos dar esses efeitos como fórmula generalizada.  Em todas as situações há casos, e casos.  Não esqueçam disso.

    Também não podemos  condenar  a  priori aquelas pessoas que se vêm envoltas por essa névoa da viciação reforçada.  Interiormente elas sofrem, e muito.  Provaram de um “pedacinho do céu” que, antes de o ingerirem todo, foi-lhes arrancado dos lábios.  De início se revolta, imaginando-se injustiçada, depois, porém, olha para si mesma e constata que é por sua culpa, exclusiva culpa, que perdeu tão saboroso manjar.  Isso a desgosta profundamente, fazendo-a tornar-se severa consigo mesma.

    Assagioli diz que “A pessoa, cuja, consciência moral está agora mais aperfeiçoada e exigente e cuja ânsia de perfeição tornou-se mais intensa, julga com maior severidade e condena a própria personalidade com renovada veemência; ela pode alimentar a crença errônea de que se tornou ainda menos do que era.”   (Grifos nossos)

    Pessoalmente, no convívio de trabalhos assistenciais, pude estar com muitas pessoas que se mostravam decepcionadas consigo próprias.  Usavam de parâmetros com Seres de escol para demonstrar o que chamavam de “sua pequenez”.    Nesses casos, contra-argumentávamos que a perfeição não reside neste mundo, e o que aqui aprendemos não é para nos causar desesperação, mas para nos mostrar que podemos fazer melhor, mesmo que só façamos o que qualificam de pouco.

    Esta é uma das situações mais delicada que ocorre durante o processo de despertamento, pois ela pode levar a pessoa a profunda depressão emocional com total perda de ânimo.   Levaria ao suicídio?  Talvez.  Hipótese não descartável, pois a pessoa pode culpar-se de forma extrema e doentia.

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    Nota:  Os trechos de Assagioli citados nesta estão contidos nas páginas 57, 58 e 59 do  livro Emergência Espiritual, editado pela Editora Cultrix.

        

    Apostila escrita por

    LUIZ ANTONIO BRASIL

    Agosto de 1997

    Revisão em Janeiro de 2006

    Distribuição gratuita citando a fonte

     

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