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    O Inevitável Despertar - Apostila 12

    O Inevitável Despertar - Apostila 12

     

     

    Manifestações Resultantes dos Traumas - I

    Devagar vamos erguendo o cenário que nos facilita compreender tão intrincada questão:  o Ser e seu Psiquismo.  Obviamente que não estamos nos considerando detentor de competência para tanto.  De início até dissemos que nossa participação é de mero repórter – escrivinhador.  Todavia, sem falsa modéstia, não podemos deixar de entrever nas anotações até aqui coligidas, dos respectivos pesquisadores citados, um vasto acervo coincidente com as experiências pelas quais já passamos, tanto na fase do próprio Despertar quanto nas participações de atividades em grupos assistenciais que  a esteira do tempo nos permitiu vivenciar.  Portanto, pensamos nós, que nossos escritos são mais uma âncora com que nos segurarmos em mares tão tempestuosos quanto estes da compreensão do psiquismo humano para aprender das coisas da alma.

    Assim sendo, nunca será demais querer ampliar o saber, principalmente nesta área profundamente sensível e dramática, ao mesmo tempo.

    Neste passo-a-passo já falamos do Que as Crises nos Anunciam e dos Traumas que desencadeiam.  Seguindo as pegadas de dr. Roberto Assagioli e dr. R. D. Laing prosseguiremos comentando sobre as reações que advém de todo o processo transformativo oriundo do Despertar Consciencial.

    Para bem caracterizar este início de anotações, repetiremos abaixo o pensamento de Léon Denis inserido na apostila anterior, pois logo a seguir vamos compará-lo ao de Assagioli:

    ”Pouco a pouco a (sua) alma se eleva e, conforme vai subindo, nela se acumulando uma soma sempre crescente de saber e virtude; sente-se mais estreitamente ligada aos seus semelhantes; comunica mais intimamente com o seu meio social e planetário.  Elevando-se cada vez mais, não tarda a ligar-se por laços pujantes às sociedades do Espaço e depois ao SER Universal.”  (Léon Denis – Livro: O Problema do Ser, do Destino e da Dor – Página 120 – Editado pela Federação Espírita Brasileira)

    “(...) um despertar interior harmonioso é caracterizado por uma sensação de júbilo e de iluminação mental que traz consigo uma percepção do sentido e do propósito da vida; ela dissipa muitas dúvidas, oferece a solução para muitos problemas e fornece uma fonte interior de segurança.  Ao mesmo tempo, surge a compreensão de que a vida é una e uma chuva de amor flui pelo indivíduo desperto para os semelhantes e para toda a criação.”  (Assagioli – in Emergência Espiritual – página 57 – Editado pela Editora Cultrix)  (Grifo nosso)

    Os dois pensamentos reproduzidos acima, de dois diferentes autores, demonstram a perfeita sincronia existente entre ambos:  Despertar para a Universalidade.  Embora nas apostilas 01 e 02 tenhamos nos referido sobre as dificuldades que o Ser encontra ao iniciar seu despertamento, pois do que mais dele se exigirá para o bom êxito do objetivo é que deverá “abandonar a personalidade anterior e toda a sua corte”, com as duas citações acima revela-se o lado monumental com que se coroa quando atinge os patamares mais elevados da compreensão da vida:  a Harmonia Cósmica.

    Pois bem, alcançado este coroamento, e mesmo recordando as conflituosas situações vivenciadas durante as crises, podemos dizer no bom linguajar popular:  “valeu o esforço !”

    Mas voltemos aos comentários, pois estamos só a meio caminho  nesta  nossa  pretensão de estudarmos juntos.

    Iniciando, e retomando os esclarecimentos a respeito dos resultados provocados pelo processo de despertamento, naquela parte que se refere ao ato de abandonar a personalidade anterior, Assagioli comenta:  “A personalidade anterior, com seus contornos grosseiros e característicos desagradáveis, parece ter passado para o segundo plano, e uma nova pessoa, amorosa e adorável, sorri para nós e para o mundo inteiro, ávida por ser gentil, por servir e por compartilhar suas riquezas espirituais recém-adquiridas, (...)”  (Página 57)  (Grifo nosso)

    Este trecho nos fala que cessados aqueles estados desagradavelmente alterados com que a pessoa se apresentava, que no fundo significavam sua intensa luta por deixar, em definitivo, a personalidade velha e ingressar na nova, cessados aqueles, a pessoa ingressa em novo estágio de viver. 

    De início é uma leveza indescritível que sente.  O peso dos transtornos a pouco deixados desaparece.  Regulariza-se o apetite alimentar e o sono torna-se repousante.   Mas os resultados não ficam só nessas sensações fisiológicas.   As emoções que se apoderam dela são gratificantes.   Faz com que se torne compreensiva, tolerante, e seu desejo maior é que outros também participem dos motivos de sua alegria.   E´ a isso que se refere Assagioli ao dizer que a pessoa volta-se desperto para os semelhantes”.

    Todavia, existem realidades inesperadas que não podem ser afastadas, por maior seja a alegria de viver a vida.  Intrínseco à existência está o mapeamento cármico do indivíduo, e o seu despertar não o isenta de cumprir os compromissos assumidos em tempos outros.  Muito pelo contrário.  Na verdade, o despertar veio para infundir-lhe coragem, pois compromissos assumidos são Leis inderrogáveis, e de coragem ele muito precisará.

    Diante dessa invectiva que a vida lhe apresenta, haverá alguma oscilação temperamental.  Algo assim como um resto de fuligem da personalidade velha empanando o brilho da nova.  Vejamos como Assagioli se refere a isso, quando diz que o

    (...) estado de júbilo exaltado pode durar por períodos variáveis, mas está fadado a desaparecer.  Por mais beatífico a pessoa esteja se sentindo, esse estado de alma cessará, porque “O influxo de luz e de amor é rítmico, como todas as coisas do universo.  Depois de algum tempo, diminui ou cessa e a maré cheia é seguida pela vazante.  A personalidade foi infundida e transformada, mas essa transformação raramente é permanente ou completa.  O mais comum é a reversão de uma ampla parcela de elementos da personalidade envolvidos ao seu estado anterior.”  (Página 57) (Grifos nossos)

    Como dissemos acima, o despertar não nos isenta dos compromissos com a vida física, e nem nos transforma, definitivamente, em pessoas compreensivas para com os sentimentos que nos assediam.   Decorrente a isso, os embates das atividades diárias provocarão o arrefecimento do entusiasmo inicial.   Quando assim se dá, as tendências oriundas das personalidades anteriores – de suas outras vidas – que pareciam, finalmente, extintas retornam.

    Pode-se dizer que é natural essa recidiva, mais até, ela é inevitável, pois o influxo de energias conscienciais, do despertar, abriu canais até então obstruídos, permitindo que as muitas experiências de vidas passadas, processadas nesta como tendências, caiam como avalanche sobre a consciência ao nível físico.  O transcurso das duas etapas é algo como o ilustrado na figura 12A.

     

     

    Quadro 1 – Representa o estado de júbilo.  A pessoa tem a impressão de que todo seu passado está definitivamente selado.  Que a “porta” de seu porão da consciência fechou-se de vez.  Por isso, sente-se “leve”, aliviada.  Cessaram as pressões das crises do despertar.  Uma coragem nova anima-lhe o viver.  Todos os seres passam a ser para ela algo amorável, e quer ir ao encontro de todos, contar-lhes da magnitude que sente.

    Quadro 2 – Mas a situação figurada no quadro 1 não dura para sempre, como bem esclareceu Assagioli.  Sem que a pessoa perceba, lá nos refolhos da alma, como vimos na figura 09C, apostila 09, permanece o passado em fermentação e, quando menos se espera, os tentáculos moldados nas vidas já esquecidas lançam-se sobre a consciência física, garroteando-a novamente.  É a velha personalidade que volta.

    Sobre este vai-e-vem de emoções, estuda-se exaustivamente nas apostilas 37, 38 e 39 da série Mediunidade, tema Animismo.  Lá mostramos que do âmago do próprio Ser exalam, por via dos canais desobstruídos, suas próprias energias, crivos de outras encarnações, que caracterizam seu temperamento e aptidões nesta vida.

    Tal influxo de tendências, que para melhor nos orientar podemos chamar de contra-corrente, pois a que predominava até então era a das benfazejas inspirações espirituais elevadas, tal influxo, dizíamos, traz ao cenário da vida física todo seu ímpeto, quando não devastador.

    Envolvido por ele a pessoa, que até pouco antes se deliciava em entusiasmos que não sabia descrever, volta a sentir-se vacilante, duvidosa até se os sentimentos que a sustinham eram reais.

    Diante dessa dicotomia  perguntamos:   A ação desse ciclo não torna mais frustrante a experiência do indivíduo com o processo de seu despertar ?  Aparentemente, a resposta é sim.  Mas convenhamos que uma mutação tão profunda, como a dos moldes de um despertar consciencial, não poderia se efetivar de uma só vez.  Voltamos a lembrar que só pela aparência física do indivíduo não podemos avaliar a sua carga cármica.  Logo, não há que estranhar a persistência das oscilações humorais, pois, sem dúvida esta pessoa está sob intenso ajuste.

    Apesar desse inegável fato, ou seja, dessa contra-corrente que tende a levar o indivíduo à frustração com seu processo de despertamento, é preciso esclarecer que adicionada à ela outras forças se agrupam.   Essas outras forças, que as veremos a seguir, contribuem para o mesmo efeito devastador, embora de princípio assim possa não parecer.

    Vejamos o que Assagioli diz a respeito:

    “Dada a sua natureza sintetizadora, as energias supraconscientes agem sobre os elementos da personalidade de maneiras que tendem a levá-los ao seu próximo nível superior de organização.  Alcançado esse nível há liberação de energia sinérgica e esta produz o êxtase, o enlevo e o júbilo característicos dessas experiências.”  (Página 57)

    Assagioli diz que as energias oriundas da Consciência Maior – supraconscientes - têm ação sintetizadora, ou seja, reúnem em si, ou puxam para si, os elementos, ou tendências, predominantes da personalidade atual, e os eleva a um nível superior ao que se encontram.

    Imperfeitamente, na figura 12B, quadro 1, representamos essa atração exercida pela Consciência. 

     

     

     

    Nesse ato de mudança perceptiva de nível, o indivíduo se sente alçado a planos de sublime harmonia.  Imediatamente, maciça dose de energia, que o autor denominou de sinérgicas – que vem a ser o esforço de vários elementos para a consecução de uma só determinada função – maciça dose de energia aglomera-se sobre aquele nível, provocando o estado d’alma identificado por êxtase, enlevo, beatitude, quando naqueles casos não perturbativos. A pessoa sente-se vibrar de luz.

    No quadro 2 vemos a “puxada” que as energias sinérgicas provoca sobre a pessoa, elevando-a ao nível consciencial superior ao que se encontra. Por exemplo, estando consciente no plano Físico, ela passa a sentir-se no plano Astral.  É quase uma espécie de desdobramento em que o corpo Físico permanece semi-consciente enquanto, ao mesmo tempo, a pessoa vislumbra situações do Astral.

    Todavia, como dito antes, essas sensações não são permanentes.  À elas segue-se um inesperado fluxo de energias que “produz uma perturbação emocional que se exprime num comportamento descontrolado (...)”.  Inexperiente, a pessoa se sente confusa, insegura, temendo por sua sanidade.

    Mas a elucidação de Assagioli pertinente aos comentários acima não terminou.  Prossigamos:  “A depender da quantidade de energia supraconsciente irradiada pelo EU, da capacidade da pessoa na época e de muitos outros fatores, esse nível superior de organização pode ou não ser estável.”

    “Pode ou não ser estável”.  É justamente essa oscilação que provoca a insegurança.  E já que o novo estado de enlevo não é permanente, em razão do ritmo cíclico das energias, uma pergunta aguça nossa curiosidade:  Por quanto tempo dura, estavelmente, a harmonia em que a pessoa se viu alçada ?  Assagioli responde:

    “Na maioria dos casos ele permanece enquanto o EU irradiar a sua energia.  Mas uma vez que essa energia seja retirada – o que termina por acontecer, devido à natureza cíclica da atividade do EU – há uma tendência mais ou menos pronunciada na personalidade no sentido de reverter ao seu nível precedente de organização.”  (Página 57)

    Ou seja, voltar à mesma tipologia de comportamentos de sua personalidade.  Claro que a resposta de Assagioli não satisfaz inteiramente.  Nossa mente lógica sempre quer informações precisas e, se possível, detalhadas.  Entretanto, reconhecemos que em questões de psiquismo não é possível encontrar-se padrões comportamentais.  Cada Ser é um Ser, único em si mesmo.

    Logo, em características cíclicas só podemos dizer que em algumas pessoas a  permanência energizadora do EU será mais duradoura que em outras.  Por isso, para resguardar-se da fase em que diminui a incidência energética da consciência, trazendo com isso a sua inevitável conseqüência perturbativa, a pessoa deve ser cercada de informações realísticas sobre o que está vivendo.  Isto é, não se deixar iludir imaginando que a permanência do êxtase venha de ser perene, mas que,  compreendendo a realidade de seus compromissos para com a vida, bem como com a oscilação cíclica de seu influxo energético, preparada estará para enfrentar heróica e valentemente as pressões do mundo. 

    Assim embasada, suportará melhor o decréscimo de energia consciencial.  Com isso diminuirá em muito o tempo da fase cíclica que chamaremos de negativa.

    Nossa experiência tem constatado que o parâmetro principal para se resolver satisfatoriamente essa dicotomia é o indivíduo, na compreensão do fenômeno, conseguir permanecer em um nível comportamental mais elevado que o anterior em seu ambiente físico.     Isto é, ter forças para abandonar a personalidade anterior e seus vícios.

    Afirmar dessa forma pode parecer um paradoxo, ou um contra-senso, pois quem não deseja sentir e vivenciar a felicidade espiritual ?   Todavia, como abandonar a personalidade velha não é ato assim tão simples, veremos que o paradoxo não está na afirmativa acima, mas no ato em si de deixar o passado.

    Os comentários se seguem na próxima apostila.  

     

     Bibliografia:  
    Allan Kardec  O Livro dos Médiuns  Livraria Allan Kardec Editora
    Camile Flamarion  Deus na Natureza  Federação Espírita Brasileira
     Léon Denis    O Problema do Ser, do Destino e da Dor    Federação Espírita Brasileira
     Roberto Assagioli       Psicossíntese  Editora Cultrix
    Stanislav Grof e Christina Grof  Emergência Espiritual  Editora Cultrix

       

    Apostila escrita por

    LUIZ ANTONIO BRASIL

    Agosto de 1997

    Revisão em Dezembro de 2005

    Distribuição gratuita citando a fonte

     

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