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    O Inevitável Despertar - Apostila 11

    O Inevitável Despertar - Apostila 11

     

     

    Intranqüilidades do Despertar - II


    Na apostila 10 falávamos que se torna de suma importância saber fazer a distinção do que ocorre com a pessoa infelicitada em seu processo de despertamento espiritual.  Saber diferençar entre  estado alterado de consciência, que é um desajuste funcional entre os vários corpos, ou, se é detentora de alguma anomalia físio-neurológica.  Isso cabe ao terapeuta.

    Quanto à pessoa em si, dizíamos, acompanhando dr. Roberto Assagioli, que não são poucos os exemplos daqueles que confundem essa irradiação do Eu Superior como sendo uma faculdade própria e exclusiva de sua personalidade.  Isto é, de sua forma física de viver.   Desse equívoco vêm os exemplos citados naquela apostila, tal como os “seguidores fanáticos de vários cultos”.

    De tudo isso se depreende que a fase inicial do confronto da personalidade com a sua consciência, ou usando a terminologia de Assagioli, do “eu” com o “EU”, é sempre um acontecimento traumático, porque a personalidade não “acredita” no que a consciência “diz e inspira”, preferindo seguir a costumeira rota de colisão e parceria com a ilusão do mundo físico. 

     

     

    Na figura 11A  ilustramos esse acontecimento, mostrando que devido aos traumas, entre os dois níveis existenciais, como que se forma uma linha divisória que impede à personalidade “enxergar” e entender os sinais que lhe chegam do Eu Maior.  Para ela só existe o mundo físico.

    Vivendo nessa instabilidade que é proveniente exclusivamente do despertar consciencial, que a situa fora dos padrões que a sociedade classifica de “normais”, e provadamente não possuindo lesão físio-neurológica e nem estando vitimada por distúrbios da emoção, mesmo assim, quando frente a tratamentos pela ciência acadêmica a pessoa é considerada num dos seguintes tipos:  “(...) esquizofrenia, psicose maníaco-depressiva e depressão involutiva. (...)”  (Página É1 – Laing)

    Todavia o autor aponta que “as pessoas têm esse comportamento porque sua auto-experiência é diferente.”  (Página É1)  O que quer dizer que embora nos comportamentos possam se assemelhar aos distúrbios enumerados acima, entretanto, na realidade, não se enquadram nos virtualmente psicopatas. 

    Observem que ele usa o termo “auto-experiência”, que determina ser um vivenciamento particularizado, e não um genérico comportamento de psiquismo deteriorado.  Prosseguindo nos esclarecimentos, e considerando que diante desses desvios comportamentais, dos quais a pessoa nem percebe os estar vivendo, tal o envolvimento e absorção que os fatos da auto-experiência lhe causam, dr. Laing se pergunta:  “A que regiões da experiência isso leva?”  Isto é, até onde o indivíduo irá, comportando-se da forma como está?  Ele mesmo responde:  “Essa situação envolve a perda dos fundamentos comuns do ‘sentido’ do mundo que compartilhamos uns com os outros.”  (página É2).

    A pessoa, nos seus confusos extremos, onde não mais distingue o senso comum da vida, tomando como “normais” suas atitudes extravagantes, ou até agressivas, perde a percepção do que seja mundo social e suas regras.  Tudo aquilo que antes fazia parte de sua vida, tais como família, planejamentos, concretizações, etc, perdem o sentido.  Tudo se resume, durante as crises, num correr de um lado para outro, sem, no entanto obter qualquer definição duradoura.

    Diz Laing que em tal circunstância a pessoa se sente como “(...) jogada num vazio de não-ser no qual afunda.”  (Página É2).   Algo, assim, como o chão desaparecendo de sob os pés e sendo tragada por abismo sem fim.   (Figura 11B) 

     

     

     

    Quem nunca sonhou caindo em um abismo, sem ter onde se agarrar, e acorda assustado, suando por todos os poros?  Acredito que todas as pessoas já tiveram desses sonhos.   A sensação que ele transmite é horrível, mas um alívio imenso se apodera quando a pessoa acorda e vê que foi só um sonho.  Que se encontra íntegra deitada em sua cama.

    Pois é dessa forma que a pessoa se sente quando de suas primeiras crises do Despertar.  O mundo, o único que lhe era real, como que lhe escapa das mãos.   Sem dúvida, pode-se chamar a isso de um colapso psíquico-personalístico.  Uma indefinição de SER, ou um “não-ser”.

     

     

    Para melhor visualizar esse estado emocional  no qual a pessoa se vê mergulhada, mostramos três quadros na figura 11C.

    Quadro 1 – São exibidos os três corpos utilizados pela Consciência, respectiva-mente nos planos corres-pondentes.

    Quadro 2 – Os corpos se mostram des-centralizados e oscilando, como se fos-sem pêndulo.  A cada ins-tante, ines-peradamente, é um deles que se centraliza com a consciência.  Entretanto, seja qual for o que estiver no momento centralizado, repercutirá, também nos demais, as percepções que aquele vivenciar.  Esse tempo de centralização poderá ser de alguns minutos quanto de muitos dias.  Quanto mais tempo perdurar a centralização sobre o corpo Astral, ou sobre o Mental, maiores serão os traumas ao nível do corpo Físico, pois mais tempo a pessoa permanecerá confusa.  Isso ocorre porque, em tal condição, cada corpo adquire uma espécie de autonomia em relação ao conjunto, provocando, ao mesmo tempo, sensações diferentes sobre a consciência.  Nessa situação, passam a coincidir, simultaneamente, sensações do físico com as do Astral e do Mental.

    Quadro 3 – Aqui representamos o que se pode chamar de estado “normal” de consciência.  Os corpos alinhados e centrados no eixo da consciência.  E´ assim que se justapõem quando a pessoa está no estado de vigília, ou acordada.

    Mas, como estávamos falando de anormalidade, ou de estados confusos que envolviam fanatismos de toda espécie, voltemos a Assagioli, que agora faz uma recomendação de como lidar com tais situações:  “Está claro que, nessa situação, é no mínimo perda de tempo argumentar com a pessoa ou ridicularizar a sua aberração (...) O melhor é mostrar-se simpático e, (...) assinalar a natureza do seu erro e ajudá-la a aprender a fazer a necessária distinção de níveis.”  (Página 56)

    Níveis.  Exatamente o que a figura 11C mostra.  A cada influxo de energia do Eu, predominantemente sobre determinado nível, será o tipo de reação e sensação sobre o corpo Físico, ou ao nível da Personalidade.  Por essa razão podem ocorrer reações exacerbadas, às vezes, com violência, ou numa contumaz intolerância, dado que ao influxo daquelas energias,  essas  pessoas se  sentem ameaçadas naquilo que consideram sua segurança.

    Têm a impressão de que o que consideram ameaça está a nível físico, pois não distinguem a fenomenologia lhes transmutando os níveis de percepção.  Na confusão que se forma, tudo lhes parece estar acontecendo no plano físico.  Reagem, então, com atos tipicamente físicos. 

    Acompanhem a figura 11D, folha 3. 

     

    Com ela queremos dizer que a “descida” do influxo consciencial poderia ser comparada com o mesmo percorrendo o tubo de uma alta torre.  No quadro 1, temos uma visão externa da torre, serenamente posicionada em seu ambiente de existência.  Este quadro simboliza o Ser, “fincado” na Terra, mas, de alguma forma, alçando-se no espaço.

    Quadros 2 – 3 – 4 – Visão da mesma torre, sob o influxo descendente de energia.

    Quadro 2 – O influxo de energia consciencial inicia sua “descida”, e ilumina o que seria o corpo Mental.   A “janela” consciencial desse corpo se abre permitindo a percepção do que estiver se transcorrendo naquele plano.

    Quadro 3 – O influxo de energia consciencial prossegue em seu descenso.  Agora ilumina, também, o corpo Astral.  Aqui, também, a “janela” das percepções desse plano, se abre.  Neste momento, já são duas percepções simultâneas, porém diferenciadas, para a mesma pessoa.

    Quadro 4 – Prossegue a descida das energias conscienciais, atingindo o ponto mais baixo, ou seja, o corpo Físico.  A partir daqui a pessoa tem, simultaneamente, a percepção de todos os planos.  Naturalmente que, numa situação dessa, só poderia resultar em confusão mental.

    Querem outro exemplo ?  Imaginem três pessoas.  Um brasileiro, um russo e um chinês, sendo que nenhum deles conhece o idioma dos outros dois.  Os três estão conversando.  Conversando, não.  Os três falam a um só tempo.  Fácil deduzir que nada será entendido por nenhum deles, e no ambiente só estará a barulheira das vozes.

    E´ assim que fica a mente de uma pessoa vivendo a confusão conflituosa de uma crise de Despertar Consciencial.  Vê muito, ouve muito, percebe muito, mas nada lhe traz clareza, pois não possui a coerência de um viver num único plano, de cada vez.  Ou, tomando o exemplo da torre, de apenas uma “janela” aberta de cada vez.

    Portanto, dispensar cuidados assistenciais a pessoas em tais circunstâncias exige uma boa dose de bom-senso e criteriosa análise dos fatos, sem se deixar levar por emoções que o momento causar.  Sem esse bom-senso o terapeuta será, fatalmente, envolvido pelo desequilíbrio de seu consulente, porque as reações deste são as mais inesperadas possíveis, como bem expressa Assagioli no trecho a seguir:

     

    “Há também casos em que o súbito influxo de energias produz uma perturbação emocional que se exprime num comportamento descontrolado, desequilibrado e desordenado.  Gritar e chorar, cantar e ter explosões de vários tipos (...)  Se for ativo e impulsivo, o indivíduo pode ser facilmente impelido (...) a desempenhar o papel de profeta ou de salvador; pode fundar uma nova seita e começar uma espetacular campanha de proselitismo.”

     

    Mas não é de se esperar por reações diferentes das enumeradas acima, afinal, o campo psíquico da pessoa está preso num turbilhão assustador.  Este provoca alternâncias que oscilam entre extremos, porque as sensações variam de momento a momento, e as conseqüências finais são imprevisíveis.   Demos o exemplo das janelas da torre, figura 11D, mas recordamos que na apostila 05, temos a figura 05A, mostrando que em casos desses, são como as luzes ali representadas, que acendem e apagam, desordenadamente.

    Há também, como expõe Assagioli, o caso de a pessoa vir até a tomar iniciativas que parecerão sensatas.   Exemplo, arregimentar prosélitos para uma seita qualquer, porque nela ele crê firmemente, fanaticamente.  Obviamente, só  muito mais tarde os que nessa pessoa acreditaram perceberão que seguiam uma pessoa, digamos, “excêntrica”.  Isto é, descentrada.  Descompensada.

    Os tipos de comportamentos incomuns são muitos, além dos já citados, e, para vê-los não é preciso ir muito longe.  Infelizmente, nossas ruas apresentam desses exemplos, naqueles indivíduos que todos acham esquisitos, expressando uma realidade inconteste, de que é muito vulnerável o que chamamos de equilíbrio emocional.  Às vezes, por pequenas questões, o indivíduo transpõe a linha divisória entre os dois campos, equilíbrio/desequilíbrio, e a sociedade passa a rejeitá-lo.

    De forma enfática Assagioli caracteriza as reações da fase do Despertamento da Consciência, (EAC), com o que pode ser chamado de “mediunidade aflorada”.  Algo que é comum se ver nas ruas, repetimos, em templos religiosos e nos centros espiritualistas. Por isso, observamos nas anotações de Assagioli, que elas se confundem com as recomendações de Allan Kardec e de Léon Denis, no que se referem ao cuidados a serem dispensados à pessoa em desenvolvimento mediúnico, embora, naturalmente, ele tenha usado de linguagem diferente. 

    Todavia, há que se fazer uma ressalva.   Embora os apontamentos de Assagioli estejam corretos, torna-se indispensável, e da mais alta relevância, tomar-se expressivo cuidado na análise desses fatos, quais os acima referidos.   

    A razão é  a  seguinte:   Assagioli  cita  um exemplo de comportamento incomum falando da possibilidade de uma pessoa com poderes visionários vir a fundar uma seita.  Supomos que nesse exemplo o emérito pesquisador restringiu o fato à possibilidade da pessoa não estar movida por um fundamento espiritual real.  Ou seja, não estar movida por uma inspiração de ordem espiritual, realmente, superior.

    Entretanto, perguntamos; como ter certeza, absoluta, de que o aquele comportamento incomum, que aquela pessoa apresenta, é tão só um delírio, passageiro ou não ?

    Essa certeza é quase impossível de se obter.  Vejam, a história de todas as religiões conta que seus fundadores deram os primeiros passos impelidos por inspirações que, disseram, ter recebido de potestades espirituais.  Portanto, atos visionários.  Assim foi com Sidharta Gautama (Budismo), Moisés (Judaísmo), Jesus (Cristianismo), Maomé (Islamismo), para só falar de alguns e, no entanto, de minguadas seitas com escassos adeptos, se transformaram nas religiões mundiais da atualidade.

    Por isso, nenhuma análise deve ser feita tomando-se por base manifestações isoladas, mas, sem precipitação, observar todas as variantes de conduta do indivíduo, para só, então, assegurar-se de uma certeza, assim mesmo, certeza relativa, porque uma certeza absoluta só o tempo poderá oferecer.

    Outro detalhe a se observar nos apontamentos de Assagioli e Laing é que até aqui não fizeram referência ao fato de que sob o influxo de energia consciencial mais potente, a pessoa fique exposta a possíveis  invasões de emanações de outras consciências, processos popularmente chamados de obsessões.  Dessa questão nós tratamos no estudo dos Chacras, apostilas 21 a 25 da série Mediunidade, e nesta série abordaremos mais à frente.

    Por enquanto, como já se percebeu, estamos dando destaque apenas à emanação do próprio indivíduo sobre si mesmo.  Uma distinção que fazemos para tornar bem visível o potencial latente em toda criatura, não desconhecendo, porém, a interação inamovível do Ser individual com os demais, espalhados por todo o cosmo, porque a destinação de todos os Seres é sentir que...

     

    ...”pouco a pouco a (sua) alma se eleva e, conforme vai subindo, nela se acumulando uma soma sempre crescente de saber e virtude; sente-se mais estreitamente ligada aos seus semelhantes; comunica mais intimamente com o seu meio social e planetário.  Elevando-se cada vez mais, não tarda a ligar-se por laços pujantes às sociedades do Espaço e depois ao SER Universal.” 

     

     

    O Autor desse poético texto é Léon Denis, e está inserido em seu livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, à página 120, editado pela Federação Espírita Brasileira.   Fenomenal obra que nos leva aos meandros da alma, esclarecendo-nos sobre tantos Por Quês...

    Finalizando, queremos dizer que esse “pouco a pouco” referido por Léon Denis são as REAÇÕES CONSTRUTIVAS que o indivíduo aplica quando se depara com as incontáveis dificuldades de seu caminho evolutivo.   Especialmente quando, num dado período encarnatório, se vê enredado nas malhas de um despertar espiritual.  Portanto, todos os parâmetros comentados acima ajudam-nos a abolir os equivocados conceitos que constroem a falsa imagem de culparmos outras criaturas sobre tudo o que de infelicitador nos aconteça. 

     

    Na verdade, se olharmos bem para nós mesmos veremos que as outras pessoas nos ajudam é a descobrir o Anjo, ou o Demônio em nós contido, bem como os porquês dos traumas que disso passam vir.

     

     Bibliografia:
     André Luiz/Francisco Cândido Xavier  Evolução em Dois Mundos – página 39   Federação Espírita Brasileira
     André Luiz/Francisco Cândido Xavier   No Mundo Maior  -  páginas 45, 54 e 58  Federação Espírita Brasileira
     Edith Fiore       Possessão Espiritual    Editora Pensamento
     Eliezer C. Mendes         Psicotranse      Editora Pensamento
     Emmanuel/Francisco Cândido Xavier   Pão Nosso – capítulo 111    Federação Espírita Brasileira
     Enciclopédia Barsa     Volume 15, página 73     Encyclopaedia Britannica
     Itzhak Bentov      À Espreita do Pêndulo Cósmico  Editora Cultrix
     Leopoldo Balduino  Psiquiatria e Mediunismo – página 201  Federação Espírita Brasileira
     Manoel Ph. Miranda/Divaldo P Franco  Painéis da Obsessão – Prefácio  Livraria Espírita Alvorada Editora
     Roberto Assagioli      Psicossíntese    Editora Cultrix
     Stanislav Grof e Christina Grof    Emergência Espiritual   Editora Cultrix
     Vivências   Apostila 13 da série Reconstrução e 37 e 52 da série Mediunidade  

       

    Apostila escrita por

    LUIZ ANTONIO BRASIL

    Agosto de 1997

    Revisão em Dezembro de 2005

    Distribuição gratuita citando a fonte

     

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