Suicídio

Suicídio e o Vale dos Suicidas
Comportamento

Semanas atrás fui levado a experimentar as energias do Vale dos Suicidas.

Estive em contato com uma amiga onde comentamos a suicídio de um amigo em comum.

Ela me esclareceu dos motivos que levaram nosso amigo a cometer este ato terrível.

* Ninguém tem o direito de tirar a própria vida, assim como não tem o direito de tirar a vida de qualquer ser, a não ser que este ser seja uma ameaça a sua própria vida ou a vida de outro ser.

Ao chegar em casa, antes de dormir, fui pesquisar um pouco sobre "suicídio", sempre faço isto em relação ao que acontece no dia a dia.

Busco me esclarecer daquilo que me chega, seja o que for.

Tudo esta relacionado com nossa evolução e aprendizado.


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Após ler alguns artigos sobre o tema suicídio, solicitei a meus amigos espirituais que me informassem da situação de meu amigo e me coloquei a disposição para auxiliar se fosse possível.

Ele se suicidou aproximadamente 6 meses atrás, estamos em julho de 2012.

Dormi, e fui levado a uma visita ao Vale dos Suicidas e digo a vocês, foi TERRÍVEL.

 

Acordei diversas vezes durante a noite, passando muito mal, e cada vez que voltava a dormir, retornava ao vale.

Não sei quanto tempo passei por la, talvez 3 ou 4 horas no máximo, e digo a vocês, são indescritíveis as sensações que eu experimentei.

Dor constante em todos os níveis, físicos, mentais, emocionais.

Meus orientadores me deram uma pequena amostra dos sentimentos  e da atmosfera a que ficam submetidos os suicidas.... é terrificante.

Terrificante =  terrível - horripilante -  assustador -  dantesco -  medonho  -  horrível -  abismal -  atroz  - disforme -  espantoso  - horrendo -  horroroso -  infando  - infernal  -  monstruoso   -   pavoroso  - sinistro -  temeroso  - tétrico -  aterrador -  lúgubre   terrífico -  torvo

Escuridão permanente, sofrimento constante, se anda por cima de seres literalmente fincados em um tipo de solo lodoso.

A sensação é de permanente caos, angústia, sofrimento indefinível e permanente.

Ao acordar pela manhã, continuava a sentir as sensações do ambiente e fiquei grande parte do dia sofrendo as consequências de ter estado naquele lugar.

Dor de cabeça, angústia, náuseas, mal estar generalizado.

Foi explicado que não poderia fazer nada pelo meu amigo (apenas orar por ele), pois ele deveria cumprir naquele lugar o restante de tempo que lhe restava quando de sua programação encarnatória.

Um exemplo:

É programado pelos encarregados das reencarnações, juntamente com quem vai encarnar ou a revelia do mesmo, dependendo do grau de consciência, o tempo de vivência que o reencarnante deverá cumprir na sua existência física, digamos 75 anos como exemplo.

O reencarnate assume sua jornada e com 35 anos resolve cometer o suicídio...

Como tinha uma programação de 75 anos e cumpriu apenas 35 anos, restaram a cumprir 40 anos.

Os corpos de nosso exemplo foram programados e carregados com energia para 75 anos e esta energia permanece ligada aos corpos apesar do suicídio.

Sendo assim, o reencarnante suicida deverá ficar no local chamado Vale dos Suicidas até esgotar todas as energias,,, é um caso de esgotamento de energias físicas, não é uma punição.

Quanto as dores a que o mesmo é submetido, são oriundas da própria consciência do ser ao reconhecer às falhas de seus atos.

Milton Cezar Rosa

 


Abaixo o relato do espírito suicida de Camilo Castelo Branco.

 

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (Camilo Castelo Branco) nasceu em Lisboa, Portugal, em 16 de março de 1825 e matou-se em São Miguel de Seide, aos 65 anos de idade.

Obsediado, pessimista, dono de grande inteligência e cultura, um dos maiores escritores portugueses, foi cometido por uma doença nos olhos que, aos poucos, o levou à cegueira completa.

Consultou vários médicos e, no dia 10 de junho de 1890, foi consultado em sua própria residência, por renomado especialista.

Sem poder arrancar do médico a verdade sobre a doença, Camilo ficou à escuta enquanto o oculista dava sua opinião à esposa dele, Ana Plácido.

Foi aí que o escritor soube que sua cegueira tratava-se de caso perdido. Voltou ao quarto e deu um tiro no ouvido.

A idéia de suicídio perseguia Camilo fazia tempo e prova disso é a carta que deixou, datata de três anos antes do ato suicida, cujo trecho abaixo transcrevemos:

26 de novembro de 1889

Meus padecimentos estão se complicando e levando-me ao suicídio.

Esta vontade de me matar vem de longe.

E acredito que, no momento supremo, não terei a firmeza suficiente para escrever estas linhas.

Escrevo-as hoje, antecipando-me à hora final.

Minha vida foi muito infeliz e, quem me conhece não deve chorar minha morte.

Quando se ler este papel, já estarei gozando das primeiras horas de repouso.

Não deixo nada. Deixo um exemplo.

Seja bom e virtuoso, quem o puder ser.

Camilo Castelo Branco.

Mas, longe de encontrar o repouso que a si mesmo prometera, o escritor encontrou remorsos, sofrimentos, dores, visões aterradoras, um cenário infernal, sem o mínimo descanso, como ele próprio nos relatou nas linhas que se seguirão abaixo.

"É bem possível que haja quem duvide da verdade que vai escrita nestas páginas.

Dirão que é fantasia.

Não os convidarei a crer.

Não é assunto que se imponha à crença.

Mas se sabem raciocinar, que o façam!

Eu os convido desejando, ardentemente, que não queiram conhecer essa realidade através dos canais do suicídio - canais cheios de trevas aos quais me impus eu mesmo..

Camilo Castelo Branco

Introdução

"Quem se atira ao suicídio espera livrar-se dos sofrimentos considerados insuportáveis...

"Também eu pensei assim.

"Enganei-me, porém - e sofrimentos milhões de vezes maiores me esperavam dentro do túmulo onde me escondi, pensando escapar às dores do corpo físico.

"As primeiras horas depois do meu suicídio foram passadas como se eu estivesse dormindo. Meu espírito ficou como que desmaiado. Não ouvia, não sentia coisa alguma a não ser a sensação da morte que acabara de buscar. Era como se aquele tiro maldito - que até hoje ainda ouço - tivesse esparramado cada uma das células que compunham meu corpo.

"A linguagem humana ainda não inventou palavras que possam contar as impressões que sente o suicida, logo depois do desastre que ele cometeu. Para entender tudo o que se passa, só outro espírito que houvesse cometido a mesma loucura!

"Nessas primeiras horas - que se fossem só elas, já seriam um inferno grande demais para qualquer um - sente-se dolorosamente machucado, nulo, arrebentado em cada uma das moléculas. Perde-se no vácuo... e apesar disso, sente-se medo, acovarda-se, sente-se a profundidade apavorante do erro cometido, na certeza de se haver ultrapassado os limites permitidos.

"Pouco a pouco, fui me sentindo acordar.

"Sentia frio, muito frio. Tremia. Tinha a impressão de que minhas roupas eram de gelo e estivessem grudadas na minha pele. Faltava-me o ar. Sentia um mau cheiro muito grande, tão grande, que me causava náuseas. Sentia uma dor muito aguda na cabeça, partindo do ouvido direito. Levei a mão ao local da dor e percebi o sangue escorrendo do buraco feito pela bala do revólver que usei para o suicídio. 

O sangue manchou-me as mãos, a roupa, o corpo.

"E eu nada enxergava...

"Devo esclarecer que o motivo que me levou ao suicídio foi a revolta de haver ficado cego.

"Pensei que o sofrimento da cegueira fosse grande demais. Como eu estava enganado!

"E, ao acordar na morte, continuava cego! Além de cego, agora estava ferido. Mas eu pensava estar apenas machucado - e não morto!

Sim, a vida continuava em mim, como antes do suicídio!

"Sentindo-me vivo, imaginei que o tiro não havia sido suficiente para me matar. Acreditei estar num hospital ou em minha casa, mas, nada conseguindo ver, era impossível reconhecer o lugar.

"As dores, a incerteza sobre onde estava e a solidão começaram a me angustiar. Chamei por meus familiares, por amigos - mas o silêncio continuava em torno de mim.

"Cheio de mau humor gritei por enfermeiros, por médicos que, certamente, estariam por perto.

"Bradei por qualquer pessoa que viesse abrir as janelas do aposento em que me achava. Eu precisava de ar puro, de cobertores quentes que afastassem aquele frio intenso. Queria que fizessem um curativo na ferida do ouvido; que trouxessem alimento e água, pois tinha fome, sentia sede!

"Mas o que ouvi, horas depois, foi um vozerio que começou ao longe e foi se fazendo mais claro, mais próximo. Era um coro sinistro de vozes confusas e desnorteadas, como uma assembléia de loucos. Estas vozes não falavam entre si, não conversavam. Blasfemavam, queixavam-se, lamentavam, uivavam, gritavam, choravam um pranto de horror, suplicavam socorro e piedade.

"Aterrado, sentia-me ligado, não sei de que forma, àquelas pessoas que gritavam. Aquelas vozes infundiam-me tão grave pavor, que tentei levantar-me, querendo afastar-me, para não ouvi-las.

"Mas não conseguia! Parecia possuir raízes que me prendiam no lugar, não podia soltar-me! Aliás, mesmo que o pudesse, como sair dali, se estava a esvair-me em sangue? Como andar, se estava cego, em lugar que não sabia qual era?

"Cheio de covardia, pus-me a chorar e, quando chorava, aquele som de loucos parecia fazer estranho coro comigo, como se tivéssemos algo em comum.

"Depois de grandes esforços, consegui me levantar. O corpo estava frio, os músculos retesados, sentia o corpo inteiro formigando. Quando fiquei em pé, o cheiro repugnante de sangue e carne podres fizeram-se tão fortes, que senti náuseas. O mau cheiro partia do ponto em que estivera deitado. Não entendia como poderia cheirar tão mal, a cama em que achava. E o sangue continuava a correr, manchando minhas roupas; eu estava inteiro coberto por este sangue empastado que não parava de sair do ferimento que eu mesmo fizera.

"Com surpresa, percebi estar vestido com minhas melhores roupas como se fosse a uma festa, apesar de preso a um leito de dor. E não entendia como, de um machucado até pequeno, pudesse sair tanto sangue - e porque não havia ali perto alguém para fazer curativos e trocar os panos.

"Inquieto, vaguei pela escuridão procurando a saída. Tropecei num monte de destroços e me abaixei para examinar, com as mãos, que coisas eram aquelas que estavam à minha frente.

"Então, ah, Deus! Descobri que o montão de destroços era nada menos que a terra de uma sepultura, recentemente fechada!

"Não sei como, se estava cego, pude ver, no meio da escuridão, o que existia em volta. Eu estava num cemitério!

"A loucura se apoderou de mim. Comecei a gritar, a uivar como um demônio - e agora era eu quem fazia coro àquelas vozes malditas que não se calavam e pareciam se aproximar mais.

"O que fazia eu num cemitério? Como teria ido parar ali ferido, sozinho, fraco e doente? Era verdade que eu tentara me suicidar, mas não havia conseguido. Eu dei o tiro, mas estava vivo... Eu quisera morrer, mas... E, devagar, a consciência me falou coisas que eu não queria pensar:

'Não quiseste o suicídio? Pois aí o tens...'

"Como assim? Eu não havia conseguido morrer. Acaso não estava ali, vivo e andando?

"No entanto, nem havia acabado de fazer estas perguntas, quando me vi a mim próprio! Vi-me como em frente a um espelho: morto, estendido num caixão, já com as carnes apodrecendo no fundo de uma sepultura - justamente aquela sepultura sobre a qual acabara de tropeçar!

"Fugi dali, desejando me esconder de mim mesmo, cheio de horror!

"E, como louco que agora estava, eu corria tendo sempre à minha frente o corpo apodrecendo, coberto por lesmas nojentas que brigavam entre si, para devorar o corpo que era eu mesmo!

"Ah, que vontade de morrer! Que vontade de morrer de verdade, pois, mesmo querendo me matar, continuava vivo como antes - ou mais vivo ainda!

"Na fuga desesperada, cheguei à cidade; fui entrando nas portas que encontrava abertas, a fim de me esconder. Vaguei pelas ruas tropeçando, caindo, escorando nas paredes, sofrendo sozinho na mesma cidade onde sempre fui respeitado, onde meu nome era endeusado como um gênio.

"Consegui chegar à minha casa. Ali, percebi grande desordem. Meus objetos de uso pessoal, meus livros, meus apontamentos, nada encontrei nos lugares de costume. Senti-me estranho dentro da minha própria casa! Nem amigos, nem aprentes me diziam uma única palavra de conforto.

"Dirigi-me a consultórios médicos, tentei ser recolhido a um hospital, pois sentia febre, dor e amargura. Em vão eu me apresentava; ninguém dava importância quando eu dizia meu nome, quando eu dizia quem era, o que havia feito, meus títulos, minhas qualidades pessoais - orgulho tolo, pois ninguém me ouvia, ninguém me olhava, ninguém me via pelo menos!

"Aflito e sentindo muitas dores, não encontrava alívio em parte alguma. E o meu corpo morto me atraía para o túmulo onde se encontrava, como se um ímã poderoso me puxasse com força.

"Era muito grande a atração exercida pelo meu próprio cadáver e, não encontrando lugar algum onde pudesse ao menos descansar, acabei voltando ao local de onde viera: o cemitério...

"Debrucei-me soluçando sobre a sepultura que guardava meus miseráveis restos, sentindo uma fúria diabólica, compreendendo que me suicidara, que estava sepultado mas que, apesar disso, continuava vivo e sofrendo mais, muito mais que antes.

"Durante meses, vaguei sem rumo. Ligado à carne que apodrecia, não podia afastar-me dali. 

Mesmo cego, vi fantasmas perambulando pelo cemitério e, como eu, estavam chorosos e aflitos.

"Numa das vezes em que ía e vinha tropeçando pelas ruas, ao dobrar uma esquina, deparei-me com certa multidão - uma porção de individualidades, entre homens e mulheres. Era noite - ou pelo menos eu achava que era, pois estava sempre envolvido pela escuridão da cegueira. Essa multidão era a mesma que vinha me aterrando com seus lamentos, desde que acordei na morte.

"Tentei recuar, fugir, esconder-me; porém, logo me vi envolvido por aquelas pessoas que uivavam desesperadamente. Fui levado de roldão, puxado, empurrado, arrastado; e era tal a aglomeração, que me perdi dentro dela. Aquele bando de dementes era conduzido por soldados - que agora, conduziam a mim também. A cada momento juntava-se à multidão outro vagabundo, como acontecera comigo que, mesmo querendo, não podia mais se afastar da turba barulhenta.

"Pensei que estivéssemos sendo levados à prisão. Protestei. Em altas vozes, bradei que não era um criminoso; falei meu nome, enumerei meus títulos e qualidades - mas os guardas, se me ouviam, nem tiveram o trabalho de responder.

"A caminhada foi longa. O frio era cortante e enregelava a todos. Misturei minhas lágrimas e meus lamentos ao coro de vozes horripilantes, participando também eu, da triste sinfonia de dor.

"Caminhamos muito, muito e, finalmente, começamos a entrar por um vale profundo.

"Cavernas surgiram de um lado e de outro, numa espécie de ruas que eram estreitas passagens entre montanhas. Não se via terra no chão; tudo eram pedras, lamaçais, pântanos e sombras. E descíamos mais por aqueles abismos. Por fim, os soldados fizeram alto e, como eles, estacamos.

"Ficamos em silêncio até percebermos que a soldadesca se retirava. Eles se afastavam, abandonando-nos ali! Sem sabermos o que significava aquilo, corremos atrás deles, querendo nos retirar também. Mas, em vão! Os pântanos, as cavernas, as ruelas eram tantas, que nos perderíamos, pois, para qualquer lado onde olhássemos, para onde nos dirigíssemos, o cenário era sempre o mesmo. 

"Estranho terror se apossou de todos nós

Os condenados

"Meus companheiros eram pavorosos.

Feios, magros, desalinhados, irreconhecíveis até pelos que amaram na Terra. Era uma assembléia imensa de criaturas disformes; homens e mulheres cujo único traço comum era a alucinação. Todos trajavam roupas empastadas do lodo das sepulturas, trazendo a fisionomia alterada pelo sofrimento. Imaginai uma localidade, uma povoação envolvida eternamente por densa penumbra gelada, onde se aglomerassem tétricos fantasmas suicidas, erguidos do túmulo! Pois eram assim as criaturas que eu tinha por companheiros - e também eu, já esquecido do meu orgulho, pertencia a tão repugnante massa; também eu era um feio, um alucinado, um pastoso como os demais!

"Eu via - não sei como, pois estava cego, mas eu conseguia ver e este era um castigo, pois, se não visse absolutamente nada, os sofrimentos seriam menores, por não saber o que se passava ao lado.

"Eu via, aqui e ali, os companheiros repetindo o gesto suicida! As ânsias do enforcamento, os gestos desesperados por livrar o pescoço arroxeado dos farrapos de cordas ou tiras de panos!

"Via outros, como loucos, em correrias espantosas pedindo socorro em gritos alucinados, julgando-se, de momento a momento, envolvidos pela chama que lhes devorava o corpo e que, desde então, queimava sem parar. Estes que se mataram através do fogo eram, geralmente, mulheres.

"Eis que via outros ainda com o peito, o ouvido ou a garganta banhados em sangue. Ah! Sangue inalterável, permanente, que nada conseguia estancar!

"Havia aqueles outros sufocando-se na bárbara asfixia do afogamento. Eles se mantinham como na hora do suicídio, engolindo água aos gorgolejos, prolongando sem parar a sua agonia!

"E havia ainda mais! 

leitor que me perdoe estes detalhes talvez desinteressantes ao seu bom gosto literário - mas úteis, com certeza, servindo de advertência às pessoas condenadas a viver neste século em que o suicídio se tornou quase epidemia. 

Não pretendo, aliás, apresentar obra para deleitar temperamentos artísticos. Cumpro o sagrado dever de falar aos que sofrem e pensam, talvez, em procurar descanso no suicídio... 

Cumpro o dever de falar a verdade sobre o que espera cada um dos ingênuos que procuram se desviar dos sofrimentos pela porta da morte espontânea.

"Como eu dizia, havia mais ainda. Destacavam-se pela fealdade impressionante aqueles que haviam procurado o "descanso eterno" embaixo das rodas de um trem. Estes eram desfigurados, moídos, verdadeira massa de sangue, roupas em trapos, carnes retalhadas num emaranhado de golpe sobre golpe, como se tivessem sido fotografados no momento exato em que as rodas de ferro lhes estivessem moendo as carnes, os ossos, as víceras. Enlouquecidos pela dor, estes desgraçados uivavam de maneira tão dramática, que contagiavam quem estivesse em seu caminho.

"E, coisa incrível!

Cada um de nós recordando, sem poder esquecer, as cenas pavorosas do momento em que nos matamos; criávamos as cenas dos nossos últimos momentos na Terra. E as cenas criadas por cada um eram vistas por todos os outros, espalhando o horror por toda a parte.

"Assim, víamos aqui e ali, os suicidas balançando em suas cordas; víamos, no outro lado, trens rápidos e barulhentos colhendo o infeliz que se atirava sob as suas rodas: as carnes sendo rasgadas e trituradas; os gritos tresloucados de dor, espanto e arrependimento tardio.

"Com a mente sempre voltada ao momento sinistro, cada um de nós oferecia aos olhos dos demais outras cenas: daquele que, lembrando o suicídio por afogamento, mostrava-se à procura de ar, numa massa imensa de água! Homens e mulheres correndo desesperados - uns ensanguentados, outros torcendo-se em meio às dores do envenenamento, deixando à mostra as carnes corroídas pela droga ingerida. Outros a gritarem, em correrias desabaladas, faziam aumentar o pânico do lugar - eram os incendiados que, como eternas bolas de fogo, passavam espalhando chamas e fumaça, fazendo os companheiros recuarem com medo de que pudessem queimar-se ao seu contato.

"Era a loucura coletiva! E, para coroar todos os sofrimentos, havia as penas morais. Ah, estas! Os remorsos, as saudades dos seres amados, a vergonha!"

O Vale dos Suicidas

"E ali me vi preso em região do Mundo Invisível, lugar de sofrimentos, lugar de sombras e vales profundos, gargantas tortuosas, cavernas sinistras. Dentro destas cavernas, espíritos que foram homens uivavam feito demônios enfurecidos, devido ao grande sofrimento que os martirizava.

"Neste local de aflições não havia um único arvoredo, nem bela paisagem que pudesse distrair a vista torturada. A visão era cansativa pelas ruelas e cavernas onde só existia o supremo Horror!

"E o chão, coberto por visgo negro era imundo, pastoso, escorregadio. O ar era asfixiante, gelado, escurecido por nevoeiro ameaçador, como se tempestades eternas rugissem em torno; todos nós sufocávamos ao respirar, como se o ar cheios de matérias nocivas nos invadissem as vias respiratórias. Era um martírio, um suplício que o cérebro humano, habituado às claridades do sol, jamais poderá entender.

"Nunca o ar fresco da madrugada! Nem uma faixa azul do céu para ser contemplada! Nem a claridade do sol! Nem bandos de andorinhas, nem o piscar das estrelas! Nunca a primavera! Não havia ali, nem haverá jamais, nem paz, nem consolo, nem esperança; tudo é marcado pela desgraça, miséria, assombro, desespero, pavor! É a dor que nada consola, a desgraça que nada ameniza, a tragédia sem tranquilidade, sem poder dormir, sem sonho, sem esperança! Não há céu, não há sol, não há luz, não há perfume, não há tréguas!

"O que há é o choro convulsivo e inconsolável dos condenados! O que há é o assombroso ranger de dentes, daquela sábia advertência de Jesus! O que há é a blasfêmia do miserável arrependido a se acusar de cada uma das dolorosas recordações. Há a loucura das consciências chicoteadas pelo remorso! O que há é a raiva envenenada daquele que já não pode chorar, cansado do excesso de lágrimas! O que há; e o desapontamento, a surpresa de quem se sente vivo, apesar de haver se matado! É a revolta, a praga, o insulto, os corações que o monstruoso castigo transformou em feras! O que há é a alma ofendida, tudo envolvido em trevas! 

É o inferno, na mais horrenda exposição, porque, além de tudo, existem cenas de animalidade, prática dos mais baixos instintos, as quais me envergonharia de contar aos meus irmãos, os homens da Terra!

"Quem estaciona ali, como eu estacionei, são grandes personalidades do crime. É a escória do mundo espiritual - apenas grupos de suicidas que chegam todos os dias vindos da Espanha, Brasil, Portugal e colônias portuguesas da África, infelizes necessitados do auxílio da prece. 

São os levianos, os irresponsáveis que, fartos da vida, aventuram-se ao Desconhecido, à procura de esquecimento e alívio, através do suicídio! E eu fiz parte da sinistra multidão aprisionada nesse local pavoroso cuja lembrança, até hoje, faz-me sentir repugnância.

"É bem possível que haja quem duvide da verdade que vai escrita nestas páginas. Dirão que é fantasia. Não os convidarei a crer. Não é assunto que se imponha à crença. Mas, se sabem reciocinar, que o façam! Eu os convido, desejando ardentemente, que não queiram conhecer essa realidade através dos canais do suicídio - canais cheios de trevas, aos quais me expus, eu mesmo.

"Era eu, pois, presidiário dessa cova detestável do Horror!

"Ainda me sentia cego. Porem, apesar de cego, conseguia perceber o que se apresentasse de mau, feio, sinistro, imoral e obsceno, pois meus olhos conservavam visão suficiente para contemplar toda essa escória. Eu, tendo bastante sensibilidade, sentia-me, talvez, pior que os outros, porque também doía em mim os sofrimentos dos demais companheiros de aflições, desde que tudo o que um sentisse, esparramava-se em cima dos demais.

"Às vezes, aconteciam brigas brutais naqueles becos imundos. Sempre irritados por quaisquer motivos, nos atirávamos uns contra os outros, em lutas violentas. Muitas vezes, eu próprio me atirava como um selvagem contra os agressores e, com eles, rolava na lama em que pisávamos.

"A fome, a sede, o frio intenso, a fadiga, a insônia nos martirizavam, como se ainda estivéssemos em nosso corpo de carne.

A promiscuidade vergonhosa de espíritos que foram homens e dos que foram mulheres; tempestades constantes e inundações, a lama, o mau cheiro, as sombras eternas, a ansiedade de nos vermos livres de tantos martírios - assim era o panorama que acompanhava os nossos mais dolorosos padecimentos morais.

Envolvidos em tão enlouquecedora situação, não havia quem pudesse atingir um só instante de serenidade para se lembrar de Deus e chamar por Sua Misericórdia!

Não se podia orar, porque a oração é um bem, um descanso, uma esperança; e aos desgraçados suicidas, era impossível atingir tão grande benefício - o benefício da prece!

"Não sabíamos quando era dia ou quando era noite, porque as sombras eternas rodeavam as horas em que vivíamos. Perdemos a noção do tempo. Sentíamos como se há séculos nos encontrávamos ali e, o mesmo desânimo que armou a nossa mão para o suicídio nos dava a certeza que ali estávamos para toda a eternidade!

 O tempo estacionou no momento exato em que fizéramos tombar o nosso corpo. Daí para cá só existiam assombro, confusão, lágrimas ardentes, remorsos!

"Também ignorávamos em que local nos encontrávamos. Às vezes, tentávamos escapar; procurávamos aflitos fugir do local maldito - e saíamos a correr, como loucos furiosos! Dementes, sem consolo, sem paz, sem descanso em parte alguma, em correria sem saber para onde - para depois, sermos atraídos de volta ao mesmo lugar, como se estivéssemos ligados a ímãs gigantes que nos levavam sempre ao ponto de partida, naquela confusão de nuvens sufocantes.

"Outras vezes, vagarosamente entre as sombras, lá íamos, por entre vielas e becos, sem descobrirmos sinais de saída. Cavernas, sempre cavernas, ou trechos encharcados, lagos cheios de lodo, tendo em volta altas muralhas que mais pareciam erguidas em pedra e ferro, como se estivéssemos sepultados vivos nas profundezas de um vulcão. Era um labirinto onde nos perdíamos, sem jamais alcançar o fim! Nossa impressão era que estivéssemos prisioneiros no subsolo, em cárcere cavado embaixo da terra - ou dentro de uma cordilheira cheio de vulcões extintos - se não fosse assim, de onde viriam aqueles poços de lama e lodo, com paredes tão altas?

"Aterrados, nos púnhamos a gritar em coro, furiosamente, como se fôssemos malta de lobos danados; pedíamos que nos retirassem dali, devolvendo-nos a liberdade! Depois, aconteciam as mais violentas manifestações de terror; tudo quanto o leitor possa imaginar, dentro de confusão, de cenas tristes, aterradoras e horrorosas ficaria muito longe daquela verdade por nós vivida naquelas horas criadas pelo nosso próprio pensamento distanciado da Luz e do Amor de Deus.

"E, se não bastasse isso tudo, como se enormes espelhos nos perseguiam, onde víamos sempre aquela cena macabra: o nosso próprio corpo na sepultura, a se decompor sob o ataque dos vermes esfomeados; o trabalho detestável da podridão a seguir seu curso natural de destruição, levando junto nossas carnes, nossas víceras, nosso sangue fétido, nosso corpo inteiro consumido num banquete de milhões de vermes famintos - nosso corpo era devorado devagar, sob nossos olhares esbugalhados pelo terror!

 O corpo físico, a nossa parte material, era destruída aos poucos enquanto nós, seus donos, continuávamos vivos, sofrendo e sem podermos morrer também!

"Ó, castigo punindo o desgraçado que decidiu insultar a Deus destruindo, antes da hora, o que só a Ele cabe realizar! Nós estávamos vivos ainda, diante do corpo morto e apodrecido... E doíam em nós, as picadas monstruosas dos vermes! Ficávamos enfurecidos feito loucos, sentindo em nós mesmos, o que se passava em nosso corpo morto no túmulo!

"E os nossos gritos se reproduziam em ecos ao longo de todo o vale o tempo todo, o tempo todo... Pensávamos estar diante do tribunal do Inferno! Sim, aqueles mesmos obsessores que alimentaram em nós as sugestões do suicídio agora se divertiam com as nossas angústias, fazendo-nos acreditar que eles eram os juízes que iam nos julgar e castigar. Apresentavam-se como seres fantásticos, fantasmas impressionantes, inventando cenas satânicas, com as quais nos castigavam. Submetíamos a vexames difíceis de descrever. Obrigavam-nos a torpezas e deboches, fazendo-nos cúmplices de suas infames obscenidades!

"Donzelas que praticaram o suicídio por motivos de amor, esquecendo a mãe inconsolável; desrespeitando os cabelos brancos do pai - estas donzelas eram agora insultadas no coração e no pudor por estas entidades animalizadas que abusavam delas, fazendo-as crer que eram obrigadas a se escravizarem e a servi-los sob todas as formas por serem eles os donos do Império das Trevas que elas escolheram por moradia quando abandonaram o lar pelas portas do suicídio!

"Estes seres satânicos não passavam de espíritos que foram homens também, mas que viveram no crime: sensuais, hipócritas, perjuros, traidores, sedutores, assassinos, perversos, caluniadores, sátiros - e que muitas vezes, na Terra, tiveram funerais pomposos mas que, na vida espiritual, resumem-se na corja repugnante que mencionei...

"Além destas cenas, acontecia-nos que os atos errados que fizemos durante a vida na Terra - nossos crimes, nossas quedas - eram colocados à nossa frente; visão acusadora na condenação pelo que fizemos de incorreto. As vítimas que fizemos enquanto estivéramos vivos reapareciam agora, em lembranças vergonhosas, nos desequilibrando pelo arrependimento.

"Enfim, cada um de nós era um morto-vivo, em toda a extensão da palavra.

 E este estado de coisas só poderia ser atenuado quando se acabassem as forças vitais de que éramos portadores.

"Os suicidas se demoram no sofrimento o tempo que lhes resta para o final de seu compromisso na Terra: dias, meses, anos..

 O socorro

"Vez ou outra, uma caravana desconhecida visitava nosso buraco de sombras. Era como uma inspeção de alguma associação caridosa.

Vinha à procura daqueles que, entre nós, já havia cumprido, no Vale dos Suicidas, o tempo que deveria ser cumprido na Terra; aqueles que já estavam com os fluidos vitais enfraquecidos pela desintegração total do corpo físico.

Estes eram removidos para outras regiões intermediárias do Invisível.

"A caravana era composta por Espíritos Superiores. Trajados de branco, caminhavam pelas ruas lamacentas do vale. Um deles levava à mão direita uma bandeira brilhante, onde estava escrito: LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA.

 Tais servos eram chefiados por um espírito de aparência respeitável, vestido de branco e tendo na cabeça um turbante hindu, preso à frente por uma esmeralda, símbolo dos médicos.

 Eles entravam nas cavernas habitadas e examinavam seus moradores. Curvavam-se junto da lama, levantando alguns desgraçados tombados. Os que se apresentavam em condições de serem socorridos eram colocados em macas e levados. Uma voz que não sabíamos de onde vinha, guiava os socorristas para este ou aquele lugar onde havia um de nós em condições de ser socorrido.

"As macas eram levadas para dentro de veículos que pareciam pequenas diligências brancas, puxadas por cavalos também brancos, tão belos, que despertariam nossa atenção, caso pudéssemos notar alguma coisa além de nossas desgraças.

"Depois de busca cuidadosa pelo Vale dos Suicidas, os visitantes se retiravam enquanto gritávamos por socorro, sentindo-nos desprezados, sem entender o motivo pelo qual deveríamos permanecer mais tempo naquele sofrimento todo. Suplicávamos justiça e compaixão; ficávamos revoltados, exigindo que nos deixasse seguir com os demais. Os caravaneiros não respondiam, nem faziam qualquer gesto para nos atender.

"Então, o coro hediondo de uivos, os gritos, vibravam dolorosamente pelas ruas lamacentas, parecendo que a loucura coletiva havia atacado os presos miseráveis!

"E assim ficávamos... por quanto tempo? Oh, Deus piedoso! Por quanto tempo ainda?

"Num dia, senti-me tão profundamente cansado pelas torturas, tão fraco, como que desmaiado. Eu e outros em situação idêntica, incapazes de resistir mais tempo aquela tortura, necessitávamos descansar e esta urgência nos obrigou a ficarmos amontoados nas cavernas úmidas e escuras.

"Ali nos achávamos, quando o rumor daquelas carruagens de socorro nos chegou até os ouvidos. Apesar do cansaço que nos invadia, saímos para a rua. As vielas e as praças já estavam superlotadas pelos condenados que, como das outras vezes que éramos visitados por aquela caravana, punham-se a bradar mais alto, procurando despertar a atenção dos socorristas.

"A caravana estacionou na praça imunda. Desceram os enfermeiros e o chefe, iniciando o reconhecimento dos que seriam levados. No ar, aquela voz que não se sabia de onde vinha, chamando os suicidas pelo nome, ou indicando o lugar onde se encontravam os que já haviam cumprido seu tão tenebroso castigo.

"De súbito, ouvi meu nome! Eu seria libertado!

"Entre lágrimas, subi os degraus do veículo indicado. Entrei na carruagem confortável, onde se lia mesmo lema escrito naquela bandeira: LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA.

"Depois, o estranho comboio se pôs a caminhar e me pus a chorar, ouvindo o coro de blasfêmias, a gritaria desesperada dos infelizes que ficavam.

"A cerração cinzenta que contemplei durante tantos anos foi ficando para trás. Deus misericordioso!

 Eu estava saindo, finalmente, do Vale dos Suicidas!"

***

Mais de vinte anos depois da morte, depois de sofrer no horripilante local onde padeceu as mais negras misérias, passou a mandar mensagens psicografadas para a Terra. Eis alguns trechos:

"Peço aos que me lerem que acreditem no que digo, sem experimentar.

desastre será irremediável se fizerem o mesmo que fiz.

Aceitem a vida tal qual como ela é.

Aceitem as dores, a cegueira, as deformações, os aleijumes, o desespero, a desgraça, a fome, a desonra, a lama.

Tudo, tudo de mau, de injusto, que a Terra possa dar são coisas excelentes em comparação ao que terão, no caminho do suicídio

 

***

"Cumpro o dever sagrado de falar tão somente às pessoas que sofrem e pensam em procurar descanso no suicídio...

"Cumpro o dever de falar a verdade sobre o abismo que espera cada um dos ingênuos que procuram se desviar dos sofrimentos terrenos pela porta da morte espontânea.

"Imaginai uma localidade, uma povoação envolvida eternamente por densa penumbra gelada, onde se aglomeram tétricos fantasmas suicidas erguidos do túmulo!

"Pois era assim a multidão de criaturas que eu tinha por companheiros - e também eu, já esquecido do meu orgulho, pertencia a tão repugnante massa; também eu era um feio, um alucinado, um pastoso como os demais!

"Quando, na Terra, alguém se lembrava de orar por nós, imediatamente sua imagem aparecia na tela e ouvíamos a sua voz, pedindo a Deus que nos iluminasse os caminhos, dando-nos calma e paciência para suportarmos os sofrimentos.

 Muitas vezes, apareciam pessoas que nem sempre foram muito ligadas a nós, mas que rezavam fervorosamente em nosso benefício - enquanto que pessoas, a quem devotamos grande estima, nunca ou raramente apareciam para aliviar as asperezas de nossos infortúnios...

 

"Coragem, peregrino do pecado!

 Aprende de uma vez para sempre que és imortal e que não será pelas portas desconhecidas do suicídio que encontrarás o porto da verdadeira felicidade..

 

Camilo Castelo Branco.


Veja o vídeo onde André Luiz acorda após a morte do corpo físico, no Umbral.

André Luiz permaneceu 8 anos no Umbral, sendo considerado suicida inconsciente, pois reduziu seu tempo de vida através de seus hábitos nocivos, como fumo, álcool, sexo e alimentação desregrados.

Também contribuíram a forma de pensar, sentir e agir nas mais diversas situações de sua vivência.

8 anos foi o tempo que André Luiz teve que cumprir no Umbral até completar o tempo de vida que tinha sido programado para sua existência nesta encarnação na Terra.

Até que a energia contida em seus corpos se esgotasse, ele teve que permanecer neste lugar, a fim de drenar as energias ainda restantes.

 

 

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BONS PENSAMENTOS, BONS SENTIMENTOS, BOAS PALAVRAS, BOAS AÇÕES!

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