Família, Espiritismo e Hereditariedade

Família, Espiritismo e Hereditariedade

Fábio Gallinaro

1. INTRODUÇÃO

No Dicionário Aurélio Século XXI, encontramos a definição de hereditariedade como a transmissão dos caracteres físicos ou morais de uma pessoa aos seus descendentes.

Somos sabedores que muitas enfermidades como a diabetes, a hipertensão, a hemofilia, a polidactilia, entre outras, possuem características hereditárias, podendo o filho apresentar a mesma patologia que seus pais, ou seja, o genótipo dos pais determina a manifestação de certos males em seus descendentes.

Entretanto, será possível a comunicação dos caracteres morais e espirituais de um indivíduo para seus filhos, apenas e tão somente pela transmissão dos genes?

As unidades cromossômicas de cada indivíduo teriam a capacidade de alimentar toda uma geração ou uma descendência familiar com aspectos de personalidade e conduta?

As semelhanças entre pais e filhos estariam encerradas somente ao aspecto físico ou abrangeria também o caráter intelectivo?

Essas e outras questões serão aqui discutidas à luz da doutrina Espírita, procurando as respostas na base familiar que constitui o grande alicerce da humanidade.

 

2. LIÇÕES DO EVANGELHO

A doutrina espírita elucida uma série de questões acerca da hereditariedade: “os laços de sangue não estabelecem necessariamente os laços espirituais.

O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque este existia antes da formação do corpo.

Os pais não geram o espírito do filho: fornece-lhe apenas o envoltório corporal.

Mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir”.

Unidos pelos vínculos familiares, os espíritos possuem relações advindas de outras existências.

Há duas possibilidades:

1ª) podem ser espíritos afins, simpáticos entre si, em que é permitida a reencarnação sob o mesmo ambiente doméstico para tarefas pré-determinadas onde se objetiva a evolução dos seres;

  

2ª) podem ser espíritos que de alguma forma ainda possuem rusgas, débitos recíprocos contraídos no passado e que necessitam de ajustes e reparações na atual existência.

 

Dentro do círculo familiar é que encontraremos o exercício do perdão e do amor.

Por intermédio da bênção do esquecimento do passado, espíritos que se odiavam e se digladiavam em existências anteriores, unidos em uma nova encarnação como parentes consanguíneos, são obrigados, por uma imposição social e humana, a desenvolver o respeito e afeto recíprocos.

 

Por isso, não é o sangue que unirá o sangue.

  

Quantas famílias conhecemos totalmente desestruturadas, onde pais odeiam os filhos e vice-versa.

Se dependêssemos somente da hereditariedade genética isso não ocorreria.

Mas aquilo que o espírito carrega consigo, de bom e de ruim, é o que determinará o bom relacionamento entre os seres unidos pelo grau de parentesco.

 

3. NOSSOS FILHOS

Como gostaríamos que nossos filhos fossem?

É claro que desejamos em primeiríssimo lugar eles tenham saúde, sejam perfeitos e gozem da melhor paz e tranqüilidade que possam ter.

Em segundo plano, desejamos que eles se destaquem.

Desejamos que eles sejam os melhores alunos de sua sala de aulas, o mais educado e cordial de seus amigos, e até mesmo que seu time de futebol vença todas as partidas ou que seja o primeiro colocado na competição de natação.

Muitas vezes até, inconscientemente, vencemos nossas próprias frustrações obrigando nossos filhos a realizarem tarefas que nós não conseguimos desempenhá-las quando crianças.

Até o presente momento, estamos tendo uma visão inteiramente restrita ao materialismo onde, superada a preocupação com doenças hereditárias e saúde perfeita, nos apegamos tão somente ao que o cotidiano de nossas vidas oferece para o crescimento do ser humano.

E isso é muitíssimo pouco.

 

Khalil Gibran nos diz o seguinte:

vossos filhos não são vossos filhos.

 

 

São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós.

E embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, porque eles têm seus próprios pensamentos.

Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas.

Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós, porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.

O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.

Que o vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria, pois assim como ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável”.

 

Ora, isso significa que somos todos espíritos livres, criados simples e ignorantes, e estamos sendo guiados a todo instante para o caminho da perfeição.

Nossos filhos também são espíritos livres.

Possuem a semelhança de seus pais, mas apenas geneticamente.

As características cromossômicas são transmitidas por intermédio do sangue, fazendo-se apresentar semelhanças quanto à cor da pele, cor dos olhos, cor dos cabelos, etc.

O que o espírito traz armazenado em seu perispírito é algo totalmente individual e alheio, independente de qualquer influência de seus pais.

Obviamente, não estamos unidos pelos laços consanguíneos por mero acaso.

Há um objetivo maior de aprendizado e de respeito para estarmos unidos pelos laços de família, seja como marido e esposa, seja como pais e filhos.

Todavia, isso não significa que não possuímos diferenças e que necessitamos de ajustes que serão efetuados dentro do convívio familiar.

Nós, enquanto pais, temos um papel extremamente importante.

É preciso diferenciar educador de evangelizador.

Podemos dizer que evangelizador é gênero, quanto que educador é espécie.

Educar, é simplesmente ensinar a distinguir o certo do errado, diferenciar o bem do mal.

E por muitas vezes isso não é nem ao menos devidamente explicado aos nossos filhos.

“Pai, posso fazer isso?”.

E o pai responde: “Não!!!”.

O filho insiste: “por que não?”.

E a imposição de vontades não explica nada: “Porque eu não quero, porque eu não deixo”.

Por outro lado, evangelizar é o verdadeiro papel a ser desempenhado por todos os pais.

 

Evangelizar é detectar no espírito que vos foi confiado como filho, o que ele traz de bom e o que ele traz de ruim.

Procurar incentivar suas qualidades e suas faculdades advindas das várias existências que possuiu e alimenta-las com muito amor e muita atenção.

 

Procurar também detectar quais as más inclinações que esse espírito traz consigo e procurar aniquila-las, destruí-las, para que esse espírito, ainda nos primórdios de sua encarnação, possa crescer na senda do progresso espiritual e no amadurecimento da vossa consciência de Ser Eterno.

 

O estímulo é o grande veículo para conduzir o espírito ao seu adiantamento moral.

Quantas “parafernalhas” são produzidas e transmitidas pelos meios televisivos, sem que ao menos possamos optar por qual programação a assistir?

Quantos livros infantis de alto cabedal, são esquecidos nas prateleiras, estimulando a ociosidade de mentes jovens e abertas ao conhecimento?


Devemos estimular mais, incentivar mais.

Somos o leme de nossos filhos.

Somos o único exemplo que eles possuem dentro de um círculo de convívio ainda restrito, que é o ambiente familiar.

 

Os filhos imitam seus pais a todo instante.

 

Se os pais proferem palavras de baixo calão, seus filhos irão repetir; se os genitores possuem vidas totalmente incompatíveis com os ensinamentos cristãos, que caminhos percorrerão os seus filhos?

 

É a hora de mudanças.

Ensinar através do exemplo.

 

Como nos ensina a proposta de evangelização de espíritos do Colégio Allan Kardec, em Sacramento – MG:

“trata-se de uma postura de Eurípedes Barsanulfo para auxiliar o espírito a caminhar com mais segurança no seu processo evolutivo.

É uma postula embasada no conhecimento kardequiano, levando o espírito à consciência plena do estado em que se encontra.

A conscientização desse estado o fará encarar a necessidade evolutiva com responsabilidade e discernimento. Compreender o que é ser espírito e viver como tal, isso é, em pensamento e vontade”.

Evangelização e exemplo, eis o caminho a ser trilhado pelos pais para que auxiliem seus filhos a acumular riquezas espirituais em suas vidas.

 

Que o Mestre Jesus abençoe todas as famílias de nosso planeta, que é a célula matriz do aperfeiçoamento humano!

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